Em uma economia global cada vez mais competitiva, já não é segredo que as novas tecnologias se tornaram impulsionadoras de negócios de sucesso. E, na última década, o desenvolvimento tecnológico ganhou espaço também no mercado imobiliário. O que chama a atenção é que a inovação tem tido um papel importante para exacerbar um valor cada vez mais caro à sociedade: a sustentabilidade, que vai muito além das questões ambientais.
Claro que, com o aumento da preocupação com o consumo de energia, por exemplo, dispositivos inovadores não param de chegar ao setor da construção. É o caso do elevador com freio regenerativo – a mesma tecnologia dos carros da Fórmula 1 – que consome até 40% a menos de energia, assim como os vidros revestidos com película de células fotovoltaicas. “Algumas tecnologias são recentes e têm custo inicial elevado”, re
Em uma economia global cada vez mais competitiva, já não é segredo que as novas tecnologias se tornaram impulsionadoras de negócios de sucesso. E, na última década, o desenvolvimento tecnológico ganhou espaço também no mercado imobiliário. O que chama a atenção é que a inovação tem tido um papel importante para exacerbar um valor cada vez mais caro à sociedade: a sustentabilidade, que vai muito além das questões ambientais.
Claro que, com o aumento da preocupação com o consumo de energia, por exemplo, dispositivos inovadores não param de chegar ao setor da construção. É o caso do elevador com freio regenerativo – a mesma tecnologia dos carros da Fórmula 1 – que consome até 40% a menos de energia, assim como os vidros revestidos com película de células fotovoltaicas. “Algumas tecnologias são recentes e têm custo inicial elevado”, reconhece João Marcello Gomes Pinto, CEO da Sustentech, que conta com um portfólio de 500 projetos em edificações e instalações, cerca de 70% deles com certificação de qualidade ambiental. “Mas aos poucos serão absorvidas pelo mercado, como já acontece com as placas fotovoltaicas para geração de energia solar.”
Entre outros benefícios, diz ele, a geração de energia solar possibilita o redimensionamento do sistema de ar condicionado para uma carga térmica menor, um recurso bastante valorizado em empreendimentos corporativos. A Sustentech estima que nos últimos três anos mais de 60% dos seus projetos tenham assimilado algum tipo de solução para geração por fonte solar, reduzindo em aproximadamente 65% a média de consumo de energia de seus clientes. Nos projetos da empresa, a diminuição do consumo de água varia de 30% a 35%, em média. “É um caminho sem volta”, avalia o executivo, destacando que o payback de um investimento neste tipo de energia limpa e sustentável caiu drasticamente. “Em 2007, era de dez anos, hoje é de três a quatros anos”, ele completa.
Conforto, saúde e bem-estar direcionam o conceito de sustentabilidade na construção imobiliária
Há outros cases que ilustram esse avanço. Plataforma de e-commerce mais popular na América Latina, o Mercado Livre é uma das empresas que decidiram investir nesse sistema. A nova sede brasileira do marketplace, em Osasco (SP), já nasceu sustentável. Equipada com duas mil placas voltaicas, a instalação conta com o maior telhado do gênero na iniciativa privada brasileira. O sistema garante a geração de mais de 50% da energia consumida no prédio (0,5 MW), onde trabalham 2.000 pessoas.
Sede do Mercado Livre abriga uma das maiores usinas solares em telhado do país
Na sede da empresa, um gigante de 17 mil m² instalado num terreno de 33 mil m², o aproveitamento da água da chuva alcança 80%, poupando um recurso cada vez mais escasso e permitindo uma economia substancial no gasto mensal. Outra inovação adotada foi a instalação de uma moderna composteira elétrica, abastecida diariamente com os resíduos do restaurante, que atende a 2.000 funcionários. Transformado em adubo, o material é encaminhado à prefeitura, que usa o composto para adubar as praças da cidade.
Os benefícios dessas e de outras soluções sustentáveis são relevantes e, por isso, o número de adeptos não para de crescer. Pioneira na utilização de energia solar em larga escala no continente, a construtora MRV teve 70% de seus empreendimentos lançados em 2019 já com sistemas de placas fotovoltaicas. “A sustentabilidade está presente em todas as nossas atividades, desde a escolha do terreno até o uso de técnicas inovadoras de construção, passando por itens que garantem economia aos moradores e desenvolvimento sustentável ao entorno das edificações”, comenta Flávio Vidal, gestor executivo de inovação da MRV, que tem vários empreendimentos certificados com o Selo Azul, da Caixa Econômica Federal (CEF).
Mais recentemente, a construtora e incorporadora Patrimar assinou um acordo com a Mori Energia e a Cemig Sim para redução do custo com energia elétrica em empreendimentos do grupo, evitando a emissão de 34 toneladas de CO2 por ano. “O objetivo é otimizar a utilização de energia limpa e equilibrar a demanda com o uso racional de recursos naturais, suprindo o consumo das áreas comuns dos condomínios”, diz Lucas Couto, diretor comercial e de marketing do grupo, que possui os certificados de gestão da qualidade NBR ISO 9001:2008 e Siac/PBQP-H. “As novas tecnologias incorporam cada vez mais o conceito de sustentabilidade em nossos empreendimentos.”
ESFORÇO
Essa é a tônica atual que prevalece no setor da construção. “A inovação e as novas tecnologias são fundamentais para um futuro sustentável”, avalia Manuel Martins, coordenador executivo da área de construção sustentável da Fundação Vanzolini, que emite a certificação AQUA-HQE, um dos mais consolidados selos de qualidade ambiental para empreendimentos imobiliários no Brasil. “Trata-se de uma certificação orientada para o desempenho, ao invés de requisitos prescritivos”, destaca Martins. “Apenas por adotar esta abordagem, a inovação e as novas tecnologias já são premiadas.”
Embora não haja estatísticas, calcula-se que no Brasil existam mais de mil empreendimentos imobiliários com algum tipo de certificação na área da sustentabilidade. Além do AQUA-HQE e do Selo Casa Azul, diversas iniciativas de classificação socioambiental e de desempenho – públicas e privadas – vêm ganhado espaço, como as certificações Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), Breeam (Building Research Establishment Environmental Assessment Method), Procel Edifica (Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações) e PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat, do Governo Federal), dentre outras.
Com isso, cada vez mais empreendimentos buscam a certificação. O Amadis, por exemplo, foi o 500º projeto da construtora e incorporadora Tarjab a obter o selo AQUA-HQE. O projeto conta com infraestrutura para aquecimento solar e equipamentos mais eficientes, além de dispositivos de controle automático da iluminação, que reduzem o consumo de energia. “A inovação e as novas tecnologias estão diretamente ligadas ao esforço de avançarmos em direção a uma construção mais sustentável”, diz Carlos Borges, diretor presidente da Tarjab, que busca a certificação AQUA-HQE em todos os seus empreendimentos, independentemente do padrão de construção. “Nesse sentido, caminhamos para uma construção industrializada e seca, com geração cada vez menor de entulho e contenção de perdas no processo construtivo.”
Projetos de logística reversa de materiais estimulam o manejo sustentável de resíduos
Para diminuir o impacto ambiental nas obras, a Tarjab faz levantamento planialtimétrico com drones, elabora projetos em BIM, usa materiais como alvenaria de vedação interna em dry-wall e madeira de reflorestamento certificada, além de montar kits hidráulicos fora da obra e adotar proteções de segurança reutilizáveis. No pós-obra, a economia de energia nas áreas comuns de seus empreendimentos supera 22% e a de água, 40%. “Para isso, também reaproveitamos água de lavatórios e utilizamos telhas translúcidas para melhorar a iluminação natural”, diz o diretor.
PROJETOS
Mas os projetos de sustentabilidade também estão contribuindo para dirimir outro grave gargalo na construção civil – os resíduos. Cálculos de técnicos do setor indicam que o Brasil produz anualmente perto de 90 milhões de m³ de resíduos. A redução desse entulho (incluindo concreto, gesso, papel, plástico, madeira, metais e vidros) na obra é vital para a redução do impacto ambiental.
Nas empresas que investem em projetos sustentáveis, a estimativa é de que 90% desses entulhos já não são mais enviados para aterros sanitários. Com mais de 4.5 milhões de m² construídos, a construtora Even tem um trabalho eficiente nessa área. “A gestão correta resulta num aproveitamento médio de 95% dos resíduos gerados nas obras”, relata Marcelo Morais, diretor de operações da empresa. “Além disso, a economia aproximada de água e energia é de 60%, considerando o uso correto pelo condomínio.”
A Even, ressalta o executivo, já conta com 57 empreendimentos certificados pelo AQUA-HQE, o equivalente a 1,3 milhão de m² construídos e 12.397 unidades. Pioneira do setor a receber a certificação no Brasil, a construtora implantou ainda projetos de logística reversa para materiais, que são devolvidos aos fornecedores e reaproveitados.
A rede de materiais de construção e bricolagem Leroy Merlin é outra empresa que está na vanguarda em seu segmento. Desde a primeira certificação pelo AQUA-HQE, em 2009, todas as lojas próprias conquistaram o selo. Segundo Pedro Sarro, diretor de projetos e obras da empresa, somente este ano a varejista já deixou de consumir mais de 5,8 mil m³ de água potável e de enviar 6,5 mil toneladas de resíduos aos aterros sanitários. “Em alguns casos, também conseguimos acompanhar o consumo de energia elétrica em tempo real”, destaca.
TECNOLOGIAS
Os especialistas são unânimes em afirmar que, para o sucesso na sustentabilidade de um empreendimento, é fundamental a integração do projeto. Para isso, já existem softwares avançados que conseguem predizer o consumo de energia a partir das soluções escolhidas, como o ‘EnergyPlus’, por exemplo, uma fermenta criada pelo Departamento de Energia dos EUA que permite fazer a simulação da carga térmica e a análise energética das edificações antes mesmo de sua construção.
Outro sistema inovador cada vez mais utilizado é o BIM (Building Information Modeling), que faz uma modelagem virtual equivalente à edificação real, com uma gama enorme de detalhes no que se refere à composição dos materiais, como portas e janelas, por exemplo. Além de reduzir prazos e retrabalho, o sistema também permite aos engenheiros simular a edificação e entender seu comportamento antes de iniciada a fase de construção.
Modelagem virtual promove o uso de soluções mais sustentáveis nos projetos
Com 200 empreendimentos entregues e 2,5 milhões de m² construídos, a Trisul é uma das construtoras no Brasil que utilizam o BIM. Na empresa, os projetos de redução do impacto ambiental resultam em resultados expressivos: em suas edificações, a média é de 50% de diminuição no consumo de água e de 25% no de energia, resultado do uso de dispositivos economizadores. “Nossos canteiros podem ser comparados a uma linha de montagem do setor automobilístico, pois os materiais já chegam prontos para serem usados e montados”, conta Roberto Pastor, diretor técnico da Trisul, que também possui diversos empreendimentos certificados.
Embora de maneira geral os canteiros de obras ainda sejam pouco mecanizados, crescem as modalidades de construção que apostam na edificação industrial, o que também reduz o problema com resíduos, como é o caso do projeto Mora, que oferece edifícios de microapartamentos erguidos em unidades completas. Produzidos em módulos de aço estrutural reforçado, as unidades são transportadas desde a fábrica até locais como a Vila Madalena (SP), onde são montadas já prontas. Concebidos por uma start-up, os apartamentos de 20 m² do Mora já vêm mobiliados e com eletrodomésticos (TV, micro-ondas e fogão), além de tecnologia incorporada – a abertura das portas, por exemplo, é feita com o celular, assim como o acionamento da iluminação.
Buscando reduzir a necessidade de deslocamento, a Patrimar trouxe outra inovação ao mercado ao desenvolver um projeto-piloto de entrega com robôs, que será implementado no Edifício Soho Square, em São Paulo. Denominada ‘D4 Touchless Delivery’, a solução foi criada pela startup MyView, em parceria com a DHL Supply Chain e a Unike Technologies. Também conhecidos como ‘drones terrestres’, os dispositivos fazem o serviço automatizado de delivery de pacotes (alimentos, medicamentos e outras mercadorias), com carga de até 8 kg e em volumes de, no máximo, 50 cm x 50 cm.
O morador faz o pedido e o pagamento por aplicativo. Recebida na portaria, a mercadoria é higienizada antes de ser colocada no aparelho. O morador é então notificado da chegada da encomenda e o robô inicia o trajeto até a torre. Para liberar a porta do robô, é preciso apenas olhar para o drone por três segundos. “É uma tecnologia inovadora, muito útil agora, pois contribui para reduzir a disseminação do coronavírus e garante maior conforto e segurança nas entregas”, observa Patricia Bernardino, gerente administrativa do Grupo Patrimar.
Antes disso, drones e outros dispositivos móveis já vinham sendo utilizados para avaliação aérea de terrenos e levantamentos em locais de difícil acesso. Na fase construtiva, são usados para acompanhar o desenvolvimento da obra e mostrar como evolui em seus diferentes estágios.
Drones terrestres já integram oferta de construtoras e incorporadoras
Assim, o trabalho que antes levava dias – ou semanas – agora pode ser feito em poucas horas. “É um equipamento moderno, movido a bateria, ambientalmente correto, ágil e preciso, que consegue obter uma quantidade enorme de informações e elementos, que uma pessoa a pé não conseguiria fazer no mesmo intervalo de tempo”, explica Martins, da Fundação Vanzolini.
TENDÊNCIAS
Para o CEO da Sustentech, a automação é uma forte tendência no mercado imobiliário. “Os prédios ficarão mais autônomos e com menos dependência das concessionárias de serviços, podendo gerir melhor sua energia, o consumo de água e a geração e reutilização de resíduos”, diz Gomes Pinto, ao ressaltar que o conforto e a saúde na moradia serão ainda mais valorizados. “Essa tendência se reforçou com a pandemia, pois as pessoas estão tendo de ficar confinadas dentro de casa.”
Em nome do bem-estar, chegaram recentemente ao Brasil equipamentos portáteis que medem uma série de situações nos ambientes internos.
Hoje, já é possível checar em detalhes a insalubridade de um local, medindo o PH e impurezas da água, a qualidade do ar, o grau de ondas eletromagnéticas produzidas por antenas de celulares, o alcance do Wifi e, até mesmo, uma eventual radioatividade de pedras de revestimento utilizadas em bancadas de cozinhas e banheiros.
Todavia, o executivo da Sustentech comenta que no exterior já estão à disposição tecnologias ainda mais revolucionárias. “É o caso dos chuveiros com filtros que tornam a água mais limpa, com a quantidade precisa de flúor e cloro, além de adicionarem vitamina C para que o usuário faça suplementação vitamínica ao mesmo tempo em que toma banho”, finaliza Gomes Pinto.
Os benefíciosda certificação
De acordo com o coordenador executivo da área de construção sustentável da Fundação Vanzolini, Manuel Martins, uma certificação independente como o AQUA-HQE traz diversos benefícios a um projeto imobiliário, por comprovar que o empreendimento segue padrões internacionais de sustentabilidade, conforto e saúde.
Isso inclui a garantia de melhores condições de moradia, eficiência no consumo energético e de água, redução nas despesas com conservação e manutenção e aumento do valor do patrimônio ao longo do tempo. Para o empreendedor, a certificação traz vantagens ao associar sua imagem à Alta Qualidade Ambiental. “Trata-se de uma diferenciação no portfólio da empresa, resultando em aumento da velocidade de vendas e de locação”, observa o especialista. “Além disso, melhora o relacionamento com órgãos ambientais e com a comunidade, que por sua vez se beneficia com uma menor demanda sobre as infraestruturas urbanas e os recursos hídricos, assim como pela redução da poluição e do impacto da obra na vizinhança.”
Certificações trazem benefícios à cadeia produtiva, aos ocupantes dos empreendimentos e à comunidade
Tecnologias de ponta reinventam o setor
Além de drones, robôs e sistemas digitais avançados, outras tecnologias começam a despontar na construção, contribuindo para a expansão de obras com menor impacto ambiental e que privilegiam a saúde e o conforto dos empreendimentos. Nos EUA, ambientes internos já contam com luminárias que se adaptam ao ciclo circadiano (o ritmo biológico do ser humano).
Garantindo melhor aproveitamento da luminosidade, os dispositivos adaptam a luz com o passar das horas, controlando sua intensidade e temperatura. Ainda na área da iluminação, já estão no mercado – principalmente corporativo e de galpões industriais – modelos de persianas com controle automático, permitindo melhor gestão da energia consumida nas instalações à medida que a luz muda no ambiente externo.
Impressoras 3D estão entre as inovações que estão revolucionando a construção
A impressão 3D também se mostra promissora. Os equipamentos podem ser utilizados em construções modulares, em fábricas ou mesmo no canteiro de obras, gerando benefícios logísticos e agilizando o processo de desenvolvimento e fabricação. Também são cada vez mais comuns os chamados telhados verdes, uma técnica de arquitetura que utiliza cobertura vegetal para melhorar a drenagem da água da chuva e contribuir para o isolamento térmico e acústico. É possível citar ainda os pisos drenantes, que absorvem a água da chuva e a devolvem ao lençol freático, assim como o uso de Internet das Coisas (IoT) para manutenção de elevadores e sistemas de ar-condicionado e inúmeras outras inovações, que estão revolucionando a construção civil e ajudando a impulsionar a eficiência e o bem-estar das edificações.
Av. Francisco Matarazzo, 404 Cj. 701/703 Água Branca - CEP 05001-000 São Paulo/SP
Telefone (11) 3662-4159
© Sobratema. A reprodução do conteúdo total ou parcial é autorizada, desde que citada a fonte. Política de privacidade