
Foto:TÜV RHEINLAND DUCTOR
As rodovias constituem o principal meio de transporte no Brasil, sendo responsáveis pela maior parte da movimentação de cargas e passageiros no país. Mesmo com relevância extrema, ainda é possível constatar gargalos logísticos e de manutenção neste importante modal, avalia Paulo Haipek, diretor na TÜV Rheinland Ductor, empresa especializada em serviços de Testes, Inspeção e Certificação (TIC). “É preciso aumentar o investimento, seja público ou privado, assim como obter melhoria da gestão de projetos, com uso de tecnologia e metodologias modernas, além de uma abordagem mais holística no planejamento da infraestrutura, que considere a intermodalidade e as necessidades futuras”, diz ele nesta entrevista exclusiva concedida à Revista Grandes Construções.
Com 25 anos de atuação na organizaç&atild


Foto:TÜV RHEINLAND DUCTOR
As rodovias constituem o principal meio de transporte no Brasil, sendo responsáveis pela maior parte da movimentação de cargas e passageiros no país. Mesmo com relevância extrema, ainda é possível constatar gargalos logísticos e de manutenção neste importante modal, avalia Paulo Haipek, diretor na TÜV Rheinland Ductor, empresa especializada em serviços de Testes, Inspeção e Certificação (TIC). “É preciso aumentar o investimento, seja público ou privado, assim como obter melhoria da gestão de projetos, com uso de tecnologia e metodologias modernas, além de uma abordagem mais holística no planejamento da infraestrutura, que considere a intermodalidade e as necessidades futuras”, diz ele nesta entrevista exclusiva concedida à Revista Grandes Construções.
Com 25 anos de atuação na organização, Haipek construiu uma trajetória voltada aos setores industriais, de infraestrutura e de engenharia, com experiência na liderança de projetos de grande porte e alta complexidade. Ao longo da carreira, o executivo esteve à frente de projetos nacionais e internacionais, conduzindo equipes multidisciplinares e implementando soluções que – segundo ele – reforçam a eficiência operacional, a segurança e a sustentabilidade.
Formado em engenharia civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, o diretor possui MBA em Planejamento e Construção de Rodovias pela Universidade Paulista e programas executivos pela Fundação Getulio Vargas (C-Level), além de qualificações com foco em Administração de Empresas, Gestão de Operações, Estratégia Corporativa, Liderança e Inovação. “O BIM é uma revolução no gerenciamento de projetos de rodovias, permitindo a colaboração em tempo real e a otimização de custos e prazos”, comenta o especialista. “Já as tecnologias ITS, como sistemas de monitoramento de tráfego e pedágio free flow, não apenas aumentam a eficiência, mas também elevam a segurança dos usuários.”
Acompanhe.
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Qual é a realidade da infraestrutura rodoviária brasileira?
A malha rodoviária brasileira é a espinha dorsal do nosso sistema de transporte, sendo responsável por mais de 60% da movimentação de cargas e pessoas. No entanto, sua realidade é de extremos. Temos trechos de alta qualidade, principalmente em rodovias concedidas, mas a maior parte da malha ainda sofre com a falta de manutenção, gargalos logísticos e projetos inadequados, o que compromete a integração regional, a competitividade e, ainda mais importante, a segurança dos usuários.
Quais são os principais gargalos e os caminhos para superá-los?
Do meu ponto de vista, os principais gargalos estão relacionados à insuficiência de investimento público e à limitação da capacidade de investimento das concessionárias, seguidas pela carência de projetos que contemplem toda a cadeia logística. A solução passa por uma combinação de medidas, como aumento de investimento, seja público ou privado, melhoria da gestão de projetos, com o uso de tecnologias e metodologias modernas, e uma abordagem mais holística no planejamento de infraestrutura, que considere a intermodalidade e as necessidades futuras.
Como avalia a discrepância entre a malha pavimentada e a evolução da frota de pesados?
Este é um dos desafios mais críticos que enfrentamos. Enquanto a frota de caminhões cresce em ritmo acelerado, a extensão de rodovias de alta capacidade não acompanha o mesmo ritmo, pressionando ainda mais a malha rodoviária, que muitas vezes não está preparada estruturalmente para essa demanda. Todavia, não existe fórmula mágica, pois a solução permeia os investimentos em duplicação e manutenção em corredores logísticos estratégicos, além de incentivos para a renovação da frota com veículos mais modernos e eficientes.
Uso de tecnologias como o BIM também é importante para o controle global do projeto em tempo real, diz o especialista. Imagem:AUTODESK
O histórico de concessões é positivo para o setor sob o ponto de vista de avanço em extensão e qualidade da malha?
Sim, as concessões impulsionaram avanços importantes em extensão e qualidade, permitindo investimentos que dificilmente seriam realizados apenas com recursos públicos. As concessões foram fundamentais para o avanço da qualidade e da extensão da malha rodoviária. Em geral, as rodovias concedidas têm um nível de serviço e segurança muito superior aos trechos operados pelo poder público. O setor privado também introduziu eficiência na gestão, investimentos em tecnologia e padrões de manutenção mais elevados. A concessão atrai capital, transfere riscos e, o mais importante, estabelece um contrato de desempenho claro.
Como garantir segurança viária, eficiência de mobilidade e atendimento às normas técnicas na construção de uma rodovia?
O primeiro passo é adotar um processo rigoroso de gerenciamento de projetos, do início ao fim. Isso inclui projetos robustos de engenharia, utilizando as melhores práticas e normas técnicas nacionais e internacionais e controle de qualidade, por meio de laboratórios e inspeções independentes, além de fiscalização e monitoramento contínuo. O uso de tecnologias como o BIM também é importante para o controle global do projeto em tempo real.
Aliás, qual é o papel das ferramentas computacionais e tecnologias inteligentes (ITS) no gerenciamento de projetos rodoviários?
Diria que possuem um papel vital nesse tipo de obra. No gerenciamento de projetos, o BIM é uma revolução, permitindo a colaboração em tempo real e a otimização de custos e prazos. Já as tecnologias ITS, como sistemas de monitoramento de tráfego e pedágio free flow, não apenas aumentam a eficiência, mas também elevam a segurança dos usuários. A digitalização do setor está transformando a forma como planejamos, construímos e operamos rodovias.
Quais são as principais referências técnicas para esse tipo de obra?
Sem dúvida, as normas brasileiras (ABNT, NBR) e as especificações do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) são as principais referências, bem como as melhores práticas e diretrizes internacionais na área.
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O que faz um projeto rodoviário ser considerado sustentável?
Isso ocorre quando o projeto integra aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG) em todas as suas fases de desenvolvimento. Isso significa minimização do impacto ecológico, garantia de segurança para a comunidade local e transparência na gestão. Nesse sentido, o Brasil tem avançado, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
É possível estimar opercentual de rodovias conectadas no país?
Não consigo determinar o percentual exato de rodovias conectadas no Brasil, mas é possível dizer que a maior parte da malha rodoviária, majoritariamente as que não operam sob concessão, ainda não têm conectividade completa. Mas vejo uma tendência de forte crescimento, isso porque a conectividade é importante tanto para o usuário, que recebe informações em tempo real sobre o tráfego e acidentes, quanto para a concessionária, que pode realizar o monitoramento remoto, a gestão inteligente do tráfego, a otimização de operações e as manutenções preditivas, que ajudam a prever a necessidade de reparos antes que problemas mais complexos ocorram nas vias.
Qual tem sido o aprendizado com a mudança na forma de cobrança de pedágios?
Essa mudança está se consolidando nas operações, com um aprendizado positivo. A implementação inicial mostrou que a tecnologia é viável e traz benefícios como a redução de congestionamentos, a melhora da fluidez do tráfego e a diminuição da emissão de poluentes. Os desafios estão na adaptação dos sistemas e na conscientização dos motoristas. Todavia, o futuro da cobrança de pedágios será, sem dúvida, livre e automatizado.
Com a digitalização, as rodovias se tornam sistemasoperacionais complexos, suscetíveis a ataques. Imagem:REPRODUÇÃO
Em quais projetos em rodovias já atuaram no Brasil? Qual foi o mais relevante e desafiador?
A TÜV Rheinland Ductor possui uma longa trajetória no setor rodoviário brasileiro, com destaque para a atuação junto ao Dersa, DER (Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo) e diversas concessionárias de rodovias no país. Participamos de projetos relevantes desde o início das concessões das rodovias estaduais, como o gerenciamento das obras da concessionária responsável pelas rodovias Anhanguera e Bandeirantes. Um marco importante ocorreu em 2000, com o gerenciamento da obra de prolongamento da Rodovia dos Bandeirantes, de Campinas até Cordeirópolis. Desde então, a TÜV Rheinland atua de forma contínua com a CCR/Motiva AutoBAn, incluindo o gerenciamento periódico das obras de recapeamento da Bandeirantes, realizadas a cada cinco anos. Também participamos na ampliação da via, quando a empresa coordenou a execução da 4ª e da 5ª faixa da rodovia. Já para a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo), a TÜV Rheinland desempenha o papel de órgão verificador do cumprimento dos contratos de concessão.
O processo de concessões acelerou essas parcerias?
Sim, já atuamos em obras da EcoRodovias (Rodovia dos Imigrantes, Anchieta e Corredor Ayrton Senna/Carvalho Pinto) e em projetos do complexo Anhanguera, como o gerenciamento de pontes e viadutos. Também estivemos presentes em empreendimentos da CCR RodoAnel, CCR ViaOeste, CCR SPVias, CCR RodoNorte, CCR ViaSul e da Concessionária Rodovias do Tietê. No Rio de Janeiro, participamos do prolongamento da Ponte Rio–Niterói e da construção das duas alças de acesso à Linha Vermelha e à Avenida Brasil. Já no Nordeste, realizamos o gerenciamento de obras do DER do Ceará, no gerenciamento das obras da ViaBahia e seguimos atuando nas rodovias da concessionária Rota do Atlântico.
Essa participação também ocorre fora do país?
Certamente, a experiência internacional também faz parte do nosso portfólio. No Paraguai, fomos responsáveis pelo gerenciamento da Ruta 10, uma rodovia de 180 km que liga Ciudad del Este a Assunción. Essa obra reduziu o tempo de viagem pela metade, de quatro para apenas duas horas. Se os primeiros projetos representaram grandes desafios, hoje contamos com mais de duas décadas de experiência no setor rodoviário. Com três laboratórios próprios – de solo, asfalto e concreto – e a maior expertise do mercado brasileiro, consolidamos nossa posição como referência em engenharia de rodovias.
Imagem: TTI
Como vislumbra as rodovias do futuro, após a disseminação de novas tecnologias?
Com ecossistemas inteligentes e integrados, as rodovias serão mais do que simples caminhos para veículos. Veremos tecnologias construtivas avançadas, como pavimentos inteligentes que se autorregeneram, segurança aprimorada com sensores e sistemas de IA que preveem acidentes, além da integração com veículos autônomos. As rodovias do futuro serão mais seguras, eficientes e sustentáveis, atuando como verdadeiros centros de informação e conectividade para a sociedade. E a TÜV Rheinland está pronta para atuar na vanguarda dessa transformação.
Nesse sentido, quais são as perspectivas em termos de riscos cibernéticos?
No Brasil, a empresa também atua com cibersegurança, e temos visto que ainda falta uma conscientização sobre a proteção de sistemas críticos como infraestrutura, saneamento, energia etc. Quando se fala em conectividade em sistemas tão críticos como o de tráfego, é importante colocar a cibersegurança como um tema central na modernização do setor. Com a digitalização, as rodovias se tornam “sistemas operacionais” complexos, suscetíveis a ataques como manipulação de sistemas de controle de tráfego, interrupção de sistemas de pedágio e exposição de dados de usuários. Ao avançarmos para a integração com veículos autônomos, os riscos aumentam ainda mais.
Como é possível se proteger dessas ameaças?
Para mitigar esses riscos, é fundamental a implementação de protocolos rigorosos de segurança, auditorias de vulnerabilidade, pen tests, sistemas robustos de detecção e resposta a incidentes. Ou seja, o setor precisa tratar a segurança digital com a mesma seriedade que a segurança física.
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