Em exclusiva à Revista Grandes Construções, o engenheiro Enrico Mangoni avalia o rápido desenvolvimento dos métodos construtivos atuais, assinalando a importância da industrialização para reduzir a poluição decorrente da construção.
Engenheiro e empresário, Mangoni é formado em engenharia civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade de Florença, na Itália.
Referência internacional em engenharia estrutural, tem título de PhD pela Faculdade de Engenharia da Universidade de Bologna, além de acumular mais de 15 anos como docente na Universidade de Florença, na cadeira de Projeto de Estruturas e Reabilitação de Construções.
Ao longo da carreira, o professor já publicou mais de 50 artigos técnicos, em grande parte sobre protensão externa em estruturas de concreto armado – incluindo estudos e pesquisas acad&e
Em exclusiva à Revista Grandes Construções, o engenheiro Enrico Mangoni avalia o rápido desenvolvimento dos métodos construtivos atuais, assinalando a importância da industrialização para reduzir a poluição decorrente da construção.
Engenheiro e empresário, Mangoni é formado em engenharia civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade de Florença, na Itália.
Referência internacional em engenharia estrutural, tem título de PhD pela Faculdade de Engenharia da Universidade de Bologna, além de acumular mais de 15 anos como docente na Universidade de Florença, na cadeira de Projeto de Estruturas e Reabilitação de Construções.
Ao longo da carreira, o professor já publicou mais de 50 artigos técnicos, em grande parte sobre protensão externa em estruturas de concreto armado – incluindo estudos e pesquisas acadêmicas sobre estruturas em aço-concreto, resistência ao fogo, reabilitação estrutural, sustentabilidade e retrofit.
No campo empresarial, lidera o Studio Mangoni, empresa de arquitetura e engenharia da qual é CEO, atuando com serviços e projetos para gerenciamento de obras em construção civil e industrial, infraestrutura, recuperação e restauração, entre outras frentes.
Em seu histórico de obras, já executou projetos estruturais de prédios, pontes e intervenções de retrofit, além de desenvolver e patentear diversos sistemas construtivos.
Do alto de sua ampla experiência, Mangoni faz reflexões sobre o papel da tecnologia construtiva em tempos de catástrofes climáticas, dentre outros assuntos.
“Todo risco, seja terremoto ou desastre climático, é composto por três variantes: a ameaça em si, a vulnerabilidade da construção e a exposição dessa construção”, pondera o engenheiro, que também discorre sobre métodos construtivos, sistemas híbridos, descarbonização da construção, BIM e outros temas.
Acompanhe os principais trechos a seguir.
Quando é preciso realizar uma obra pública, seja escola, hospital ou moradia popular, significa que existe uma necessidade. Mas o resultado de uma boa obra pública também está em aspectos como ser feita no menor prazo possível, ter ótima qualidade e oferecer uma vida útil relevante, de modo que o governo não precise, anos depois, gastar mais para reformar. Esses fatores se encontram reunidos na construção industrializada, que é mais rápida que a convencional, de maior qualidade, menos dependente de mão de obra e mais voltada para o maquinário industrial. Esses fatores impactam a durabilidade da obra. Portanto, diria que a melhor forma de empregar recursos em obras públicas é utilizar a construção industrializada.
Hoje, não há sentido em gastar dinheiro público sem pensar na sustentabilidade. Em uma obra privada, o dono pode até não pensar. Não é correto, mas pode. Numa obra pública, há de se pensar no bem comum, no lado social. E pensar em sustentabilidade, neste caso, é imprescindível. Mais uma vez, comparada com a convencional, a construção industrializada é muito mais sustentável. Além disso, é o melhor sistema para atender a obras emergenciais decorrentes de pandemias ou catástrofes climáticas.
Escolha do sistema construtivo determina o nível de poluição do empreendimento, diz Mangoni. Foto: ROTHOBLAAS
A construção industrializada é muito mais ágil e atende prontamente em condições emergenciais, o que a construção convencional não consegue. O sistema metálico, especialmente, é o futuro das construções. Isso porque, cada vez mais, teremos catástrofes climáticas no mundo. Ao mesmo tempo, precisamos de um material que dure muito – como o aço – mas que também seja extremamente versátil. Ou seja, que tenha a capacidade de ser rapidamente adaptado diante das incertezas que virão.
Para haver o menor impacto possível quando construímos, devemos levar em conta os eventos climáticos. Ao construir em um local com fortes ventanias, por exemplo, é preciso levar em conta que, com as mudanças climáticas, a probabilidade é de que haja ventanias mais fortes ainda. Todo risco, seja terremoto ou desastre climático, é composto por três variantes: a ameaça em si, a vulnerabilidade da construção e a exposição dessa construção, que pode ser maior ou menor, dependendo do uso. Fazer uma casa com estruturas brasileiras no Chile, por exemplo, não vai dar certo. Lá, as casas são dimensionadas levando em conta que há terremotos. Portanto, as estruturas empregadas são mais robustas e resilientes. Calejado por terremotos e tsunamis, o Japão também pode ensinar muito sobre a compreensão do que seja um risco.
Para haver prevenção, é necessário planejamento. Saber onde construir e de que forma, prevendo o uso que a construção terá. Não se trata somente das construções em si, mas de um planejamento urbanístico e de ocupação do solo mais amplo. Uma das medidas cabíveis, por exemplo, é evitar tanto quanto possível as aglomerações de construções e de pessoas. Áreas com alta densidade populacional tendem a sofrer mais nas catástrofes. Portanto, o ideal é distribuir as populações, em vez de concentrar.
A escolha do material deve considerar a melhor solução para os requisitos do projeto. Hoje, podemos empregar um ou vários materiais. Em tese, qualquer estrutura construtiva pode ser feita em concreto armado, aço e madeira. Pode ser uma construção mais leve (aço), que tenha resistência elevada ao fogo (concreto armado) ou altamente sustentável (madeira). Creio que o futuro das construções será de soluções híbridas, com diferentes materiais, cada um trabalhando na forma mais eficiente. Os métodos construtivos híbridos são mais fáceis de utilizar, essencialmente industrializados. Outra tendência é o desenvolvimento de novos materiais, observando os ensinamentos da natureza.
Sistemas híbridos otimizam o uso de recursos naturais na obra, comenta o especialista. Foto: ZUIDAS
Um bom exemplo é o chamado self-healing concrete (material que possui a capacidade de autorreparar as fissuras), um concreto com vários componentes, inclusive microrganismos (bactérias) que convertem nutrientes em carbonato de cálcio (calcário). A partir disso, cria-se um gel que fecha as fissuras e ranhuras presentes no concreto armado, aumentando significativamente a vida útil das estruturas feitas com esse material.
Self-healing Concrete possui a capacidade de autorreparar as fissuras em estruturas de concreto armado. Foto: UNIPRISM
Tentar medir a poluição de uma construção olhando somente para os materiais é inadequado, uma vez na construção o que polui é o empreendimento em si. A construção polui no momento das obras, mas também ao longo da vida. O ciclo básico inclui extração de materiais, transporte de insumos, realização da obra, uso da estrutura e final da vida da construção. Muitas vezes, a fase de extração e processamento dos materiais é a mais poluidora, mas a poluição total é sempre a soma das contribuições das diversas fases. Assim, interessa mais a estrutura, e como vai ser realizada, do que o material que a compõe. Seja como for, a ação deve ser contínua para obter sucesso no processo de redução das emissões de CO₂, com uma visão de longo prazo. Não adianta fazer uma ação altamente sustentável agora e, depois, não fazer mais nada nos próximos anos.
Na construção civil, ser sustentável significa reduzir ao mínimo o emprego de recursos naturais e poluir pouco em cada fase da vida da construção. A produção de aço e cimento é muito poluidora, com altas temperaturas e uso de combustíveis fósseis. Mas a cadeia de produção vem tentando produzir de forma menos impactante, seja atualizando as fábricas ou empregando energia renovável. Isso é feito, por exemplo, ao se estocar o CO₂oriundo do processo de produção dos materiais. No caso do concreto, a meta é produzir o material com menos cimento, usando outros componentes.
Os resíduos na construção civil nascem em cada fase da vida útil, mas principalmente na realização e no final da obra. E o emprego da construção industrializada limita os resíduos no canteiro, pois os materiais são criados principalmente na fábrica, enquanto a atividade no canteiro é mais de montagem. No final da vida das construções, o mercado também busca recuperar a maior quantidade de materiais. É o conceito moderno de recuperação, que analisa o final da vida e a fase de recuperação já na fase de projeto.
Basicamente, o que determina o nível de poluição é a escolha do sistema construtivo. Assim, a solução é produzir e aplicar sistemas construtivos feitos com diferentes materiais, como sistemas híbridos, otimizando o uso de recursos naturais na obra. Com isso, os canteiros se tornam muito mais limpos, sem precisar de tanto espaço para estocar materiais, seja na realização ou no final da vida da obra. Avalio que métodos construtivos híbridos, industrializados e pensados para desmontagem no final da vida permitirão reduzir a poluição nas fases de realização e uso das estruturas, abrindo possibilidade de alta recuperação dos materiais e evitando novas extrações.
Na construção civil, ser sustentável significa reduzir ao mínimo o emprego de recursos naturaisem cada fase da vida da construção. Foto: ADAPTIVE MODULAR
Certificações como a Green Building Council e LEED são muito relevantes. O problema é que, se pensamos em uma certificação no sentido de sustentabilidade, talvez o que é certificado pode não ser tão sustentável como deveria. Nos próximos 50 anos, como frisei acima, o que determinará a sustentabilidade das realizações na construção civil será substancialmente a escolha do sistema construtivo. E, muitas vezes, essas certificações são focadas principalmente em aspectos de energia e desempenho termo-energético das construções, que melhorou muito ao longo do tempo. Assim, o que antes era um fator determinante, no sentido de sustentabilidade da construção, hoje já não é mais. No final, o que se certifica é a eficiência da construção, sem levar em consideração o fator mais importante, que é a escolha do sistema construtivo. Costumo dizer que eficiência e sustentabilidade nem sempre são a mesma coisa. ♦
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