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Revista GC - Ed.2 - Fevereiro 2010
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Artigo

Planejamento de empreendimentos: uma questão mais ampla

Por: Maurício Martins Lopes, PMP

No final do ano de 2009 o 8º Construbusiness, importante evento realizado pela FIESP que atraiu mais de 700 empresários e líderes da cadeia produtiva da construção, além de jornalistas e ministros do governo federal e secretários do governo estadual de São Paulo, abordou os desafios da indústria da construção e o crescimento sustentável no Brasil.

Ao final do dia, após as palestras e os respectivos debates, os participantes do evento aprovaram a carta aberta “A Indústria da Construção e o Brasil. Uma Agenda para o Crescimento Sustentável”. Dentre outras ações detectadas para impulsionar o crescimento sustentável da construção, uma nos chama atenção: planejamento. Não que o planejamento não seja necessário, muito pelo contrário, mas por ser tão importante, já deveria ser tratado como uma premissa básica para a execução dos empreendimentos, sejam eles de qualquer natureza.

O planejamento deve ser encarado como fundamental no sucesso de um empreendimento, porém não pode ser visto de forma isolada e, sim, como um


Por: Maurício Martins Lopes, PMP

No final do ano de 2009 o 8º Construbusiness, importante evento realizado pela FIESP que atraiu mais de 700 empresários e líderes da cadeia produtiva da construção, além de jornalistas e ministros do governo federal e secretários do governo estadual de São Paulo, abordou os desafios da indústria da construção e o crescimento sustentável no Brasil.

Ao final do dia, após as palestras e os respectivos debates, os participantes do evento aprovaram a carta aberta “A Indústria da Construção e o Brasil. Uma Agenda para o Crescimento Sustentável”. Dentre outras ações detectadas para impulsionar o crescimento sustentável da construção, uma nos chama atenção: planejamento. Não que o planejamento não seja necessário, muito pelo contrário, mas por ser tão importante, já deveria ser tratado como uma premissa básica para a execução dos empreendimentos, sejam eles de qualquer natureza.

O planejamento deve ser encarado como fundamental no sucesso de um empreendimento, porém não pode ser visto de forma isolada e, sim, como um dos processos dentro do próprio gerenciamento de empreendimentos. Ainda como processos, dentro do gerenciamento de empreendimentos, têm-se o início, a execução, o monitoramento e controle e o encerramento. Portanto, o gerenciamento de empreendimentos com a sua metodologia é a disciplina que proporcionará um planejamento alinhado aos objetivos previamente estabelecidos, e o mais importante, o substancial aumento da possibilidade de sucesso do empreendimento.

O planejamento tem duas características básicas. A primeira é a de permitir que seja executado tão somente o que deve ser feito no empreendimento, nem mais, nem menos. A segunda, que não é tão menos importante, é a de garantir e guiar a forma como o controle deve ser realizado.

Todo empreendimento tem seu ciclo de vida, composto por fases, desde o seu início até a sua entrega final. As fases do ciclo de vida de um empreendimento de construção são basicamente o estudo de viabilidade, os projetos (ante projeto, projeto básico e projeto executivo), contratações e aquisições, construção e montagem, comissionamento e o start up.  O que deve ser observado é que o planejamento ocorre em todas essas fases. Desta forma, o planejamento permite a realização plena de cada fase, propiciando que as entregas geradas em cada uma delas alimentem as fases subsequentes, evitando os famigerados desencontros de informação e de ações.

O planejamento ainda é visto por muitas pessoas como apenas um cronograma com as datas e durações dos serviços, o famoso gráfico de barras apresentado ao longo do tempo. Não, mil vezes não. O planejamento, como processo do gerenciamento de empreendimentos, vai mais além, por sua abrangência em outras áreas de conhecimento. Vejamos a seguir algumas delas.

Planejamento do escopo do empreendimento – é que define o que será efetivamente executado para cumprir todos os requisitos do empreendimento. Uma definição clara, abrangente e suficientemente detalhada do escopo minimizará a ocorrência dos temidos aditivos contratuais de custos e de prazos. As diversas ferramentas, como por exemplo a EAP – estrutura analítica do projeto, devem ser utilizadas para o planejamento de todos os empreendimentos.

Planejamento do prazo do empreendimento – a partir de um planejamento do escopo bem definido, pode-se efetuar o cronograma do empreendimento. Neste momento os cronogramas de barras ou de marcos devem ser elaborados e, com certeza, vão refletir com maior precisão os prazos previstos do empreendimento.

Planejamento do custo do empreendimento – trata-se de um dos itens mais importantes, pois define o quanto deve custar o empreendimento. Um orçamento bem detalhado e amarrado com o escopo, prevendo eventuais contingências e utilizando a engenharia de valor, com certeza propiciará uma garantia de que os custos do empreendimento atingirão o objetivo inicial.

Planejamento dos stakeholders do empreendimento – não menos importante que os demais, esse planejamento tem na identificação de quem são os stakeholders do empreendimento e como eles podem influir, positiva ou negativamente, no curso do empreendimento.

São necessários ainda outros planejamentos, tais como o planejamento do custo, da qualidade, das aquisições, dos recursos humanos, da comunicação, dos riscos, da segurança e meio ambiente e financeiro do empreendimento. Todos esses planos reunidos geram o Plano do Projeto, que é o documento que norteará a execução e o controle do empreendimento.

Como se pode observar, atualmente já se dispõe de material e conhecimento suficiente, em termos de gerenciamento de empreendimentos, para estender aquela antiga tônica que pregava que para gerenciar bem um empreendimento bastava atentar somente ao tripé prazo, custo e qualidade. O certo é que esse planejamento ampliado permitirá que tenhamos empreendimentos realizados em prazos mais curtos, custos menores e ainda dentro dos padrões de qualidade esperados

Falta da cultura de planejamento
A experiência ao longo dos anos nos mostra que somente as técnicas citadas nos diversos planejamentos não bastam. Existe ainda um problema sério e difícil de ser contornado: o aspecto comportamental.

A realização do planejamento esbarra em uma característica principal que age como uma barreira, por muitas vezes e em muitas empresas, de forma intransponível. Trata-se da falta de uma cultura de planejamento.

A cultura das pessoas, das empresas, e em uma extensão maior do próprio país, não é a de planejar. Esse imediatismo é causado pela ansiedade em que as coisas aconteçam custe o que custar. A competência das pessoas por vezes é medida pela capacidade de fazer acontecer e não de planejar e posteriormente executar o planejado. Isso faz parte de nossa cultura e é difícil mudar, mas não impossível. Como mudar então? Além de inserir mais fortemente a disciplina de gerenciamento de empreendimentos nos cursos de graduação, devem ser explorados, divulgados, veiculados ao máximo os casos de sucesso de empreendimentos que utilizaram o planejamento plenamente e obtiveram sucesso.

Cabe a nós, formadores de opiniões, sermos persistentes e disseminarmos a necessidade do gerenciamento de empreendimentos, e consequentemente o planejamento, para esta e para as gerações futuras. Vale mencionar o planejamento para os Jogos Olímpicos de 2012 em Londres. O tempo utilizado para o planejamento do evento foi de dois anos. Os críticos foram implacáveis à época, alegando demora no início da execução das obras, porém o resultado é o fato de as obras estarem em estágio avançado, a ponto de se ter as arenas e estádios concluídos e prontos para testes já em 2011, ou seja, um ano antes do início efetivo dos jogos.

Planejamento é a solução para os problemas no futuro
Atualmente no Brasil vivemos um momento de crescimento econômico retumbante, somado aos dois grandes eventos que teremos no país nos próximos anos: a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Na construção, já podemos sentir a falta de muitos materiais, equipamentos e principalmente mão de obra qualificada para atender a todas essas demandas. Todos esses insumos não estarão disponíveis de uma hora para outra e, sendo assim, a grande ferramenta, e a menos custosa para fazer frente a essa questão, é a utilização do planejamento. Com um planejamento sério, detalhado e abrangente, a utilização dos recursos será otimizada, seja em empreendimentos de grande ou pequeno porte e também em empreendimentos da iniciativa pública ou privada.

Também haverá grande influência quanto à sustentabilidade, já que um planejamento efetivo de nossas construções permitirá uma utilização mais consciente dos nossos recursos naturais e com menos agressão ao meio ambiente. E, talvez, dentre todos os objetivos, este é o mais nobre e vital para o ser humano.

*Maurício Martins Lopes é formado em Engenharia Civil pelo IEEP em 1985, com MBA em Administração de Projetos pela FIA/FEA/USP e Bentley College – MA/EUA em 2001/2002. É diretor da M2L Project Management, especializada em implantação e consultoria de Gerenciamento de Empreendimentos, com mais de 16 anos de experiência e com foco maior na área de Engenharia e Construção.

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