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Prédio de moradia estudantil no Tocantins recebe prêmio internacional de arquitetura

Um edifício de moradia para estudantes de 13 a 18 anos na zona rural de Formoso do Araguaia, em Tocantins, acaba de receber um prestigiado prêmio de arquitetura internacional, o Riba International Prize.

BBC Brasil

22/11/2018 08h57 | Atualizada em 22/11/2018 12h24


As 540 crianças e adolescentes que moram no prédio estudam em uma escola próxima, mantida pela Fundação Bradesco, a Escola da Fazenda Canuanã - um projeto social, com ensino gratuito. A moradia é parte da proposta educacional, no modelo de internato.

A combinação entre escola e moradia tem o objetivo de facilitar o acesso à educação, já que, na região, "as distâncias que os estudantes têm que percorrer entre a casa e a escola são bastante extensas", explica o arquiteto Gustavo Utrabo, do escritório Aleph Zero, um dos responsáveis pelo projeto.

"O objetivo principal era melhorar a qualidade de vida das crianças. E, como consequência, aperfeiçoar seu desempenho educacional. É um esforço muito grande para as crianças e para os pais ficarem separados. Então, é um esforço que precisa valer a pena", diz Utrabo.

A obra tem uma grande cobertura metálica, que gera uma sombra generosa. Abaixo dela, há um andar todo vazado, sem paredes e sem vidros, com divisórias de madeira à meia altura, permitindo uma grande ventilação.

"O projeto tem como ponto alto a criação da sombra, uma grande varanda, que permite que a criança ocupe esse lugar com uma séri

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As 540 crianças e adolescentes que moram no prédio estudam em uma escola próxima, mantida pela Fundação Bradesco, a Escola da Fazenda Canuanã - um projeto social, com ensino gratuito. A moradia é parte da proposta educacional, no modelo de internato.

A combinação entre escola e moradia tem o objetivo de facilitar o acesso à educação, já que, na região, "as distâncias que os estudantes têm que percorrer entre a casa e a escola são bastante extensas", explica o arquiteto Gustavo Utrabo, do escritório Aleph Zero, um dos responsáveis pelo projeto.

"O objetivo principal era melhorar a qualidade de vida das crianças. E, como consequência, aperfeiçoar seu desempenho educacional. É um esforço muito grande para as crianças e para os pais ficarem separados. Então, é um esforço que precisa valer a pena", diz Utrabo.

A obra tem uma grande cobertura metálica, que gera uma sombra generosa. Abaixo dela, há um andar todo vazado, sem paredes e sem vidros, com divisórias de madeira à meia altura, permitindo uma grande ventilação.

"O projeto tem como ponto alto a criação da sombra, uma grande varanda, que permite que a criança ocupe esse lugar com uma série de brincadeiras", fala o arquiteto.

Já os dormitórios, no térreo, combinam técnicas de construção tradicional com tecnologia mais moderna. Um exemplo é uma parede mais grossa, que leva mais tempo para trocar de temperatura com o exterior, construída com um tipo de tijolo aprimorado a partir do adobe,

Essas escolhas arquitetônicas amenizam o forte calor da região, que beira os 40˚C nos dias mais quentes. O prédio chega a ficar até 7˚C mais fresco, sem necessidade de uso de ar condicionado. Uma consequência inusitada foi que a escola teve que comprar cobertores para os alunos.

Outra inovação foi a construção do projeto em conjunto com a comunidade. Foram as próprias crianças que definiram, em uma atividade de dinâmica corporal, qual era o tamanho de cada quarto de alojamento.

O reconhecimento é oferecido pelo Royal Institute of British Architects (Riba) para projetos de arquitetura arrojada e impacto social significativo. É considerado um dos prêmios de arquitetura mais rigorosos do mundo, já que especialistas internacionais visitam e avaliam as obras in loco.

Segundo o presidente do Riba, Ben Derbyshire, a moradia estudantil de Tocantins "oferece um ambiente excepcional, destinado a melhorar a vida e o bem-estar das crianças da escola, e ilustra o valor imensurável do design educacional bem feito".

Esse não é o primeiro reconhecimento que a moradia estudantil recebe. Também foi agraciada com o prêmio de Melhor Edifício de Arquitetura Educacional do mundo, da premiação Building Of The Year, em 2018, e o American Architecture Prize 2017 na categoria habitação social.

Moradia dos estudantes foi concebida em conjunto com a comunidade

Antes de o prédio ser erguido, já havia um alojamento estudantil no local, mas os estudantes não consideravam que aquela era sua "casa".

"Quando a gente chegou ali, vimos que crianças não reconheciam o local como sua própria casa. Falavam que viviam na escola", lembra o designer Marcelo Rosenbaum, que coordenou a empreitada. O objetivo então foi construir um local que as crianças pudessem perceber como sua própria casa.

Para isso, o engajamento com a comunidade local na criação do novo edifício foi fundamental.

A equipe do projeto organizou uma espécie de festival com a participação da comunidade, ao longo de cerca de 15 dias. Durante esse tempo, foram realizadas diversas atividades com pais e filhos para perceber o que seria importante para eles em uma moradia estudantil e que pudesse gerar uma sensação de "casa".

"A arquitetura é parte de uma ciência. Então, o nosso trabalho é quebrar esse olhar acadêmico. A gente chega para trocar com a comunidade, não para impor algo", diz Rosenbaum. O designer criou uma metodologia de trabalho voltada justamente a estabelecer esse tipo de troca com as comunidades.

Assim, arquitetos e comunidade escolar definiram que o tamanho dos quartos iria diminuir. De 40 crianças em 20 beliches, o dormitório passaria a ter 6 crianças em 3 beliches. Além disso, foram criadas salas de TV, áreas de estudo, espaços livres, muito jardim.

Uma outra estratégia para criar a noção de casa foi muito simples: construir o prédio um pouco afastado da escola, para que as crianças tivessem um trajeto para percorrer ao sair dali, como se fosse o caminho até chegar em casa.

Poder público teria como fazer um projeto como esse?

O custo da obra, pago pela Fundação Bradesco, não foi divulgado. No entanto, a equipe responsável defende que projetos como esse também podem ser feitos pelo poder público.

"É um projeto muito simples: cobertura metálica, madeira pré-fabricada, piso de cimento e o tijolo feito no local. Isso tornou a execução da obra mais barata e rápida - a construção levou somente 14 meses. Então, eu acho que seria totalmente possível que o poder público fizesse uma edificação como essa, não vejo porque não", defende Utrabo.

Assim, a dificuldade não é técnica e orçamentária, acredita Utrabo, mas política. "São poucos os casos em que o setor público tem um comprometimento com a arquitetura em benefício da população. Eles pensam (os políticos) que é mais importante resolver o problema logo, do que resolver bem o problema", conclui.

O arquiteto também afirma que um projeto bem pensado pode gerar benefícios de segunda ordem, como redução de custos (não ter que pagar a conta do ar condicionado, por exemplo), preservação ambiental (com projetos mais sustentáveis) e maior durabilidade.

"A estrutura de madeira usada na obra tem garantia de 20 anos. Na França, por lei, todos os jardins de infância devem ser feitos em estrutura de madeira, porque é a mais segura que existe. Resiste ao fogo por mais tempo que qualquer outra", explica Utrabo.

Além da obra em si, o poder público poderia se valer da metodologia de trabalho que foi aplicada, que envolve a troca com a comunidade. "Isso é absolutamente replicável e escalável", afirma Marcelo Rosenbaum.

"Na maioria das vezes, a arquitetura é desconectada do ser humano. É feita a partir do saber técnico e científico, de cima para baixo, dizendo o que é que as pessoas precisam. É algo padronizado: em qualquer região do país, rural ou urbana", diz o arquiteto. "Precisamos mudar isso."

"O espaço urbano é feito por ser humano. Se não está conectado com o que as pessoas daquele lugar querem e precisam, as construções ficam fadadas ao abandono, ao não cuidado, ao não pertencimento", fala o designer.

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