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Revista GC - Ed.67 - Março 2016
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Entrevista

Uma visão míope dos Jogos Olímpicos

Pesquisa de opinião indica que brasileiro médio não acredita nos benefícios do Legado dos Jogos Olímpicos de 2016 nem na importância do Brasil sediar o maior evento desportivo do planeta

Entramos na reta final. Faltando menos de 200 dias para a abertura dos Jogos Olímpicos 2016, as obras das instalações que sediarão as disputas estão com avanço físico médio de 95%. As competições-teste vão se sucedendo, com índices de aprovação acima das expectativas. O evento, que acontecerá de 5 a 21 de agosto, na cidade do Rio de Janeiro, reunirá cerca de 10.500 dos melhores atletas do mundo, representando aproximadamente 200 nações, protagonizando o maior espetáculo esportivo do planeta.

As competições serão realizadas em quatro áreas da cidade, as Zonas Olímpicas, onde serão usadas instalações desportivas já existentes ou construídas especialmente para o evento. Todas têm que ser entregues ao COI (Comitê Olímpico Internacional) até junho. Algumas delas terão caráter temporário, sendo montadas somente para as disputas e depois desmontadas. Outras, no entanto, foram concebidas para serem usadas após os jogos, fomentando a prática desportiva e o surgimento de novos atletas, ou sendo transformadas em escolas ou complexos comunitários de lazer.

Para a cidade-sede das Olimpíadas, mais do que ser o cenário da festa mundial do esporte, o evento pode promover transformações que vão além dos Jogos. Não somente graças às instalações desportivas como, principalmente, por todo um conjunto de obras de infraestrutura viária e de mobilidade urbana, como linhas de BRTs (sistema de transporte por ônibus de média capacidade), metrô e VLTs (veículos leves sobre trilhos), que poderão melhorar a qualidade de vida da sua população. São os chamados Legados dos Jogos, que deverão beneficiar diretamente cerca de 2 milhões de pessoas.

Um dos caminhos trilhados para empregar de forma eficiente os recursos a serem investidos foi a opção pela arquitetura nômade. A ideia é que instalações que não terão uso após os eventos sejam inteiramente desmontadas e reutilizadas na construção de equipamentos permanentes para a cidade.

Mas, será que os brasileiros, em sua maioria, têm consciência desses legados? Qual a percepção da opinião pública sobre os benefícios gerados pelo megaevento, cujos custos totais, incluindo obras de infraestrutura e despesas de organização, já superam os R$ 38 bilhões? Será que a mobilização de tantos recursos vai valer a pena?


Entramos na reta final. Faltando menos de 200 dias para a abertura dos Jogos Olímpicos 2016, as obras das instalações que sediarão as disputas estão com avanço físico médio de 95%. As competições-teste vão se sucedendo, com índices de aprovação acima das expectativas. O evento, que acontecerá de 5 a 21 de agosto, na cidade do Rio de Janeiro, reunirá cerca de 10.500 dos melhores atletas do mundo, representando aproximadamente 200 nações, protagonizando o maior espetáculo esportivo do planeta.

As competições serão realizadas em quatro áreas da cidade, as Zonas Olímpicas, onde serão usadas instalações desportivas já existentes ou construídas especialmente para o evento. Todas têm que ser entregues ao COI (Comitê Olímpico Internacional) até junho. Algumas delas terão caráter temporário, sendo montadas somente para as disputas e depois desmontadas. Outras, no entanto, foram concebidas para serem usadas após os jogos, fomentando a prática desportiva e o surgimento de novos atletas, ou sendo transformadas em escolas ou complexos comunitários de lazer.

Para a cidade-sede das Olimpíadas, mais do que ser o cenário da festa mundial do esporte, o evento pode promover transformações que vão além dos Jogos. Não somente graças às instalações desportivas como, principalmente, por todo um conjunto de obras de infraestrutura viária e de mobilidade urbana, como linhas de BRTs (sistema de transporte por ônibus de média capacidade), metrô e VLTs (veículos leves sobre trilhos), que poderão melhorar a qualidade de vida da sua população. São os chamados Legados dos Jogos, que deverão beneficiar diretamente cerca de 2 milhões de pessoas.

Um dos caminhos trilhados para empregar de forma eficiente os recursos a serem investidos foi a opção pela arquitetura nômade. A ideia é que instalações que não terão uso após os eventos sejam inteiramente desmontadas e reutilizadas na construção de equipamentos permanentes para a cidade.

Mas, será que os brasileiros, em sua maioria, têm consciência desses legados? Qual a percepção da opinião pública sobre os benefícios gerados pelo megaevento, cujos custos totais, incluindo obras de infraestrutura e despesas de organização, já superam os R$ 38 bilhões? Será que a mobilização de tantos recursos vai valer a pena?

Para saber isso, Grandes Construções entrevistou Davi Bertoncello, diretor da agência de pesquisa de mercado e inteligência Hello Research. Durante o mês de outubro de 2014, cerca de mil pessoas – homens e mulheres, dos diversos estados do Brasil, nas diversas classes sociais, faixas etárias acima dos 16 anos e diferentes graus de formação educacional – foram ouvidas sobre a prática de esportes, o interesse sobre competições desportivas, a importância da realização dos Jogos 2016 no Brasil e a percepção sobre seu legado.

Os resultados são preocupantes. Cerca de 41% dos entrevistados declararam que sequer sabiam que os jogos aconteceriam no Brasil e no Rio de Janeiro ou que não tinham nenhum interesse pela realização dos Jogos; 26% disseram que tinham interesse médio e apenas 34% se declararam muito interessados. Nada menos que 90% desconheciam que modalidades desportivas serão disputadas e 75% ignoravam o mês em que as disputas serão travadas.

Dos 1mil entrevistados, 60% não praticam esporte. Este número aumenta entre as mulheres (71%) e pessoas acima de 35 anos e das classes mais baixas.

Nas próximas páginas, Bertoncello comenta o resultado da pesquisa e a percepção por parte da população, dos legados dos Jogos 2016.

Grandes Construções – Como se explica a constatação da pesquisa, de que 41% dos entrevistados desconheciam que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos acontecerão no Brasil e no Rio de Janeiro? Será que essa informação não foi suficientemente divulgada em todas as camadas da população brasileira?

Davi Bertoncello – Para compreender esse fenômeno é necessário, antes, entender um pouco da formação da sociedade brasileira. É preciso lembrar que há uma diferença significativa de volume e qualidade das informações que circulam entre as diferentes classes sociais. Temos uma Classe A numericamente muito pequena, porém qualitativamente muito mais “antenada”, com relação a qualquer área do conhecimento e da informação que a Classe C e D, por exemplo. Por isso, eu diria que esse índice de conhecimento, de 41%, nem é tão baixo, comparando-o com as informações em outras áreas.

Além disso, é preciso lembrar que essa pesquisa foi realizada faltando mais de um ano para o início do evento, quando estava sendo iniciado o esforço de divulgação das Olimpíadas. Por mais que estivesse decidido há mais tempo, pelo Comitê Olímpico Internacional, que o Rio sediaria as Olimpíadas, a grande imprensa começou a dar as notícias sobre o assunto mais recentemente. Até porque, até então, o assunto que atraia a atenção da opinião pública era a Copa do Mundo.

Certamente, numa nova tomada de pesquisa, feita atualmente, esse nível de desconhecimento, seria menor. Mesmo assim, ficou claro para nós, durante a pesquisa, que as classes menos favorecidas tiveram acesso a menos informação sobre o evento.

Grandes Construções – É correto concluir que, mesmo os representantes dessas classes mais pobres, que tinham recebido as informações sobre a realização dos jogos, não tinham assimilado a sua importância? Justamente esses cidadãos que mais tinham a ganhar com os eventuais legados dos Jogos Olímpicos?

Davi Bertoncello – Sim, justamente por desconhecimento as pessoas não tinham condição de entender quais seriam os legados e de que forma eles iriam beneficiar suas vidas.

Grandes Construções – No seu entendimento, se fosse realizada hoje, essa pesquisa traria um resultado mais favorável, do ponto de vista da sua importância e percepção dos benefícios mais duradouros?

Davi Bertoncello – Talvez os resultados fossem um pouco melhores. Mas há uma questão importante a ser ponderada, que é o fato do Brasil estar sediando, quase que simultaneamente, a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Por isso, nós percebemos que mesmo as pessoas que sabiam da realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro tinham uma visão crítica e uma percepção negativa, por conta da decepção com os legados da Copa que não aconteceram. Nós sabemos que, tirando as arenas onde os jogos de futebol foram disputados, dos quais 90% foram entregues nos prazos acordados, as outras obras de infraestrutura, de transporte e mobilidade, ou foram entregues parcialmente, ou depois dos prazos ou, o que é pior, sequer saíram do papel. Nas estruturas de aeroportos, por exemplo, nem a metade do combinado foi concluída, seguindo o plano diretor inicial e o Caderno de Encargos da Copa.

Com isso as pessoas estão muito céticas quanto aos resultados desses legados. Elas acreditam que o que aconteceu com os legados da Copa vai se repetir com os resultados dos investimentos para as Olimpíadas.

Grandes Construções – Esse descrédito seria resultado da falta de atuação competente do poder público, na execução dos compromissos previstos no caderno de encargos da Fifa?

Davi Bertoncello – Sim, mas não só disso. Esse descrédito está associado aos dois principais agentes desse processo. Sabemos que muitas das empresas privadas, comprometidas com as obras do legado da Copa, e agora com as obras dos Jogos, estão associadas aos escândalos de corrupção, formação de cartel e desvio de dinheiro público, investigados pela Polícia Federal.

Grandes Construções – Outro fator a ser considerado é a confusão que as pessoas costumam fazer sobre as instâncias municipal e estadual de governo. Constantemente ouvimos comentários de que o governo do Estado do Rio de Janeiro não tem verba para recuperar hospitais públicos, que estão fechando suas portas, nem para investir na educação. Mas que sobra dinheiro para construir arenas desportivas. E nós sabemos que a maior parte dos recursos investidos nos Jogos Olímpicos são resultados de parcerias entre a iniciativa privada e a prefeitura do Rio (PPPs).

Davi Bertoncello – Exatamente. Nós sabemos distinguir os papéis e atribuições dessas instâncias de governo, mas grande parte da população não sabe. Assim como desconhece que os recursos destinados ao Esporte, de uma forma geral, ou à construção de uma arena ou parque aquático, não vem do mesmo cofre de onde saem os recursos para a Saúde. No primeiro caso, a proporção desses valores é ínfima perto do que é necessário investir na estrutura de Saúde Pública ou Educação e em outras grandes áreas, no Rio de Janeiro, que demandam investimentos públicos.

Quanto à participação privada nos investimentos para a estrutura olímpica, o grande público a ignora até porque a mídia não divulga de forma adequada. Hoje ao ligar sua televisão, ao cidadão se confronta com amplo noticiário falando justamente da participação desse setor privado, mas em escândalos de corrupção. Não tem havido espaço na pauta dessa grande mídia para deixar claros para a população os aspectos positivos da parceria entre poder público e iniciativa privada, e como isso acontece.

Mesmo quando a informação chega até o grande público, ela não tem o nível de detalhamento necessário, de forma que surgem dúvidas como, de que maneira o BNDES financiou a iniciativa privada? Será que esses financiamentos serão realmente reembolsados?

O desconhecimento favorece à desconfiança e o pessimismo.

Grandes Construções – A análise dos números da pesquisa pode, ainda, indicar que a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil não está alinhada com os interesses justamente dessa população que é mais carente por serviços públicos fundamentais?

Davi Bertoncello – O que nós percebemos é que o grande público, de baixa renda, não acredita que de alguma forma ela vá ser favorecido pelas instalações, sistemas e empreendimentos que ficarão quando os jogos acabarem. Existe a sensação de que, na verdade, as grandes obras são realizadas para esconder as áreas críticas e os interesses financeiros obscuros.

Nós estamos, nesse momento, finalizando uma nova pesquisa, que vai ter uma tomada específica com a população local, do Rio de Janeiro. Muito provavelmente vamos observar uma pequena melhora nesse cenário, mas não acredito que essa percepção dos benefícios do legado vá mudar muito, por conta dessas desconfianças.

Grandes Construções – A pesquisa aponta, ainda que uma parcela muito grande do público pesquisado não se interessa por Esportes, e quando se importa, é pelo Futebol.

Davi Bertoncello – Esse resultado está associado a dois fatores. De um lado nós temos uma questão cultural, que ainda retém a imagem do Brasil país do futebol. Nosso país sempre foi um celeiro de grandes craques. Do outro lado temos que o futebol tem atenção quase que exclusiva no que diz respeito a investimentos no desenvolvimento de novos talentos, no patrocínio de eventos desportivos e no espaço na mídia. Como resultado temos os demais esportes muito enfraquecidos, com menos investimentos associados a eles. Quando acontecem, esses investimentos não vão para a base, e sim para os que alcançaram o topo, a premiação. Historicamente, o Brasil é um país que lança luz apenas sobre os vencedores. Hoje os patrocinadores e a opinião pública reconhecem apenas aqueles atletas brasileiros que já foram campeões olímpicos, em detrimento de um investimento pesado que precisa ser feito na formação de novos atletas. Esse culto exclusivo aos vencedores nos impede de quebrar a inércia e descobrir novos valores.

Grandes Construções – Tomando como base os dados levantados por essa pesquisa e pelo cenário econômico e social brasileiro, podemos afirmar que dificilmente os Jogos Olímpicos de 2016 poderão contribuir para um processo de inclusão social ou se transformar em um importante canal de consolidação de uma identidade desportiva nacional, não é verdade?

Davi Bertoncello – Do ponto de vista de investimentos, essa análise está correta. Podemos afirmar que se os investimentos prometidos não forem realizados, o legado será menor do que o esperado. Mas o evento, por sí só gera o fator exemplo. Vamos lembrar que nas últimas olimpíadas, os países que as sediaram registraram um grande rendimento dos seus atletas nos Jogos seguintes. Num panorama geral, o que observamos é que nas Olimpíadas seguintes, a delegação daquele país tem um bom desempenho, melhor que nos jogos anteriores. Dentro do chamado ciclo olímpico, muitas vezes um atleta que se prepara muito para a competição em um determinado ano, somente alcança a sua maturação nos jogos seguintes. Dentro dessa perspectiva, os Jogos de 2016 podem, sim, ser um bom primeiro passo para o novo ciclo nos desportos brasileiros.

PRINCIPAIS CONCLUSÕES DA PESQUISA

60% Da população não pratica esporte. Este número aumenta entre as mulheres (71%), pessoas acima de35 anos e classes mais baixas.

Caminhada/corrida é o exercício mais praticado, se destacando entre os mais velhos e classes altas 1/3 Da população não acompanha esportes.

Futebol ainda é a preferência nacional em interesse e acompanhamento.Os finais de semanas são mais propensos para acompanhar esporte.

Metade dos homens trocariam algum programa que assistem por esporte. Isso não se reflete nas mulheres onde a grande maioria não trocaria. Quase metade da população não tem informações sobre olimpíadas.

Jovens e adultos (16-34) e classes média/alta tem mais informações sobre olimpíadas 71% Da população acredita que o brasil tem chance de medalhas Além do futebol, volêi e natação são a esperança de medalhas Judô, basquete, volei de praia e boxe são esportes em ascensão Jovens e classes média/alta são mais informados e demonstram maior interesse.

 

 

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