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Revista GC - Ed.19 - Setembro 2011
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Usina Hidrelétrica de Santo Antônio

Santo Antônio gera energia, sonhos e mudanças sociais para várias gerações

Nos rincões da Amazônia, a construção de usina de Santo Antônio alia tecnologia com legado social, ao qualificar 37 mil pessoas e gerar mais de 10 mil empregos para os moradores da região

São cerca de quatro horas de viagem, com sorte, para ir de São Paulo a Porto Velho, em Rondônia, onde está sendo construída a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, que faz parte do complexo do Rio Madeira. O voo geralmente faz escala em Cuiabá ou Brasília. Mas para a surpresa de muitos, eles saem lotados. A região vive um surto de crescimento e desenvolvimento por abrigar três das grandes obras de infraestrutura em execução hoje no País: a construção da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio e da Usina Hidrelétrica de Jirau, ambas ao longo do Rio Madeira, e a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

A obra de Santo Antônio, há 8 km do centro da Porto Velho, é hoje um dos principais polos turísticos da cidade, mesmo que não seja tratado de tal forma. De um lado, o imperdível passeio de balsa pelo Rio Madeira ao longo do pôr do sol. De outro, um monumento é erguido pelas mãos de um exército de 20 mil homens e mulheres sob calor de mais de 40 graus à sombra. Com mais de 50% da obra concluída, Santo Antônio é a primeira das grandes usinas hidrelétricas em construção no País, em novo ciclo de investimentos em energia, depois de mais de 30 anos de redução dramática do ritmo de obras com este perfil.

Com previsão de 3.150 megawatts (MW), que pode ser ampliada, a usina não será a maior do complexo amazônico. Esse papel cabe a Belo Monte.  No entanto, ela tem se destacado por uma série de elementos, até aqui, inéditos.  A transparência e a visibilidade é uma delas. Porém, não a mais importante. A alta tecnologia está presente por meio de equipamentos de grande porte, sistemas construtivos industrializados, aplicativos operacionais que facilitem ao máximo o gerenciamento dos operários que tocam o empreendimento. Tudo isso explica a incrível antecipação da obra em pelo menos um ano, com início da geração marcada para dezembro, cinco meses antes do que o prometido pelo consórcio construtor ao seu cliente.

Mas o que mais chama a atenção da repórter é que Santo Antônio não foi palco de revolta de operários semelhantes às que ocorreram nas obras de Jirau, por exemplo, e que impõe reflexões sobre aquele que será o maior desafio da engenharia brasileira da atualidade, a construção


São cerca de quatro horas de viagem, com sorte, para ir de São Paulo a Porto Velho, em Rondônia, onde está sendo construída a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, que faz parte do complexo do Rio Madeira. O voo geralmente faz escala em Cuiabá ou Brasília. Mas para a surpresa de muitos, eles saem lotados. A região vive um surto de crescimento e desenvolvimento por abrigar três das grandes obras de infraestrutura em execução hoje no País: a construção da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio e da Usina Hidrelétrica de Jirau, ambas ao longo do Rio Madeira, e a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

A obra de Santo Antônio, há 8 km do centro da Porto Velho, é hoje um dos principais polos turísticos da cidade, mesmo que não seja tratado de tal forma. De um lado, o imperdível passeio de balsa pelo Rio Madeira ao longo do pôr do sol. De outro, um monumento é erguido pelas mãos de um exército de 20 mil homens e mulheres sob calor de mais de 40 graus à sombra. Com mais de 50% da obra concluída, Santo Antônio é a primeira das grandes usinas hidrelétricas em construção no País, em novo ciclo de investimentos em energia, depois de mais de 30 anos de redução dramática do ritmo de obras com este perfil.

Com previsão de 3.150 megawatts (MW), que pode ser ampliada, a usina não será a maior do complexo amazônico. Esse papel cabe a Belo Monte.  No entanto, ela tem se destacado por uma série de elementos, até aqui, inéditos.  A transparência e a visibilidade é uma delas. Porém, não a mais importante. A alta tecnologia está presente por meio de equipamentos de grande porte, sistemas construtivos industrializados, aplicativos operacionais que facilitem ao máximo o gerenciamento dos operários que tocam o empreendimento. Tudo isso explica a incrível antecipação da obra em pelo menos um ano, com início da geração marcada para dezembro, cinco meses antes do que o prometido pelo consórcio construtor ao seu cliente.

Mas o que mais chama a atenção da repórter é que Santo Antônio não foi palco de revolta de operários semelhantes às que ocorreram nas obras de Jirau, por exemplo, e que impõe reflexões sobre aquele que será o maior desafio da engenharia brasileira da atualidade, a construção de Belo Monte.

Apesar da integração, Porto Velho ainda é uma cidade acanhada, que só agora começa a acordar para o surto de crescimento proporcionado pelo aquecimento da economia local, inclusive com novos investimentos imobiliários de porte. O taxista que me leva ao aeroporto reclama que, apesar dessas obras estarem previstas há muito tempo, os governantes locais não prepararam a cidade para aproveitar o boom de investimentos. Faltam hotéis de boa capacidade, só existe um shopping center, o único lazer da região são os banhos de rio, o principal parque da cidade está fechado, e a infraestrutura viária é caótica – sem contar com o esqueleto abandonado de um viaduto bem no centro da cidade. Mas o pior, reclama o motorista, “é que depois que a obra acabar, a cidade fica com o problema”. Eu já tinha ouvido isso antes.

Novo ciclo de desenvolvimento

Localizado na parte oeste da Região Norte do Brasil, entre o estado da Amazônia e do Mato Grosso, Rondônia é o Eldorado do passado. A região sempre foi encarada como fronteira de conquista por novos colonizadores.  Primeiro, foi palco de um dos maiores épicos mundiais: a construção da ferrovia Madeira-Mamoré em plena selva amazônica, visando a extração da borracha. Sem planejamento e política de desenvolvimento, esse ciclo caiu em declínio deixando atrás de si um rastro de pobreza. A cada novo ciclo econômico (madeira, garimpo) novos forasteiros chegavam atrás de enriquecimento rápido, deixando uma legião de viúvas, como são chamadas as mulheres que viviam, tinham filhos e depois eram abandonadas por esses homens. Esse é o trauma de Rondônia e o medo do taxista. Hoje, a região ensaia um novo ciclo de crescimento mais sustentável, com base na produção da soja, atraindo produtores que vieram da região sul. Mas a população quer mais, como disse o motorista do táxi. Quer projetos de médio e longo prazo, que gerem emprego e riqueza para a região.

Essas mesmas conversas foram ouvidas e chamaram a atenção de Antônio Aparecido Cardilli, o gerente administrativo e financeiro do Consórcio Santo Antônio Civil. Ele foi um dos primeiros integrantes da construtora Odebrecht que chegou à Rondônia ainda nos idos de 2000, durante o processo de estudo e viabilidade do projeto, com a missão de preparar o caminho para aquela que seria de longe uma grande empreitada, afinal a primeira usina na região da floresta amazônica. Sua função era administrativa: montar o canteiro para receber o exército de operários que deveriam vir de outros estados, uma vez que a região não dispunha de mão de  obra qualificada para enfrentar esse desafio. A questão operacional e a logística era o vértice central do seu trabalho.

Diante do novo cenário democrático brasileiro, a execução da usina, diferente do que ocorria no passado, contou pela primeira vez na história com o diálogo aberto com a população, através de audiências públicas com as comunidades atingidas. E a conversa ouvida por Cardilli era sempre a mesma, “vocês vêm, constroem, vão embora, e depois fica o problema com a gente”.  Palco de eventos que geraram grande degradação, a questão ambiental não parecia ser o que mais incomodava àquela população, mas sim o desemprego, o abandono.

Cardilli percebeu que, mais do que uma reclamação, aquela era uma dor que acompanhava aquelas pessoas. Ele refez pesquisas e contas. A obra iria precisar em torno de 20 mil pessoas, entre engenheiros e profissionais como pedreiros, carpinteiros, armadores, soldadores. Em número quantitativo, a região de Porto Velho tinha uma estimativa de mais de 30 mil desempregados, e parte disso caracterizado por analfabetos funcionais ou semianalfabetos. Ora, por que trazer pessoas de fora, o que exigiria manter uma infraestrutura de canteiros considerável, se havia na região gente desempregada que poderia fazer esse trabalho? Essa questão bateu forte em sua cabeça. E a resposta era óbvia: porque essas pessoas não tinham qualificação e condições para receber um treinamento técnico. Ora, então porque não oferecer a eles esse treinamento?

Começou a nascer aí a ideia de um programa de qualificação que tivesse como meta superar essas dificuldades e resgatar para o mercado formal essa mão de obra, até então excluída. Se isso fosse possível, o mais difícil, o emprego, praticamente estaria garantido na construção da Usina Santo Antônio.

Mas o problema esbarrava na falta de condições educacionais para isso. Como superar o imenso abismo que separava aquelas pessoas do emprego? Diferente do passado, hoje, até uma atividade como pedreiro exige condições prévias de qualificação. A construtora Odebrecht, evidentemente, detém expertise no desenvolvimento de programas de treinamento e qualificação de operários em seus canteiros de obras. Mas o desafio que estava sendo proposto ali era de outra ordem de valores: primeiro, pelo número de operários que deveriam ser treinados (em torno de 20 mil pessoas capazes de atender ao empreendimento); segundo, pela abrangência social de uma ação desse porte, numa comunidade traumatizada por uma história de carência e abandono; e terceiro, pela necessidade de garantir a qualidade dessa mão de obra que seria aproveitada na usina. Como fazer?

Cardilli estava diante de um desafio. O que ele não conta para a repórter é que um sonho já vinha de longe maturando em sua cabeça, desde os tempos em que começou a militar nas trincheiras da engenharia.

“Naquela época, a gente já conversava bastante sobre um programa que pudesse inserir essa mão de obra, tecnicamente excluída. Num país carente de profissionais, como desprezar um número tão grande de pessoas? Isso era um luxo que não podíamos nos dar. Eram ideias, um sonho que soava absurdo para muitos colegas”. “Mas já era a semente desse programa que ele conseguiu colocar em prática. É emocionante ver que esse sonho se realizou”, disse Wilson de Mello Jr, diretor do Instituto Opus, da Sobratema, colega de Cardilli no início da carreira na construtora Odebrecht.

Entre o sonho e a realidade

Desafiado, Cardilli rascunhou no guardanapo o nome do programa: “Acreditar” – “se eu não acreditasse ninguém mais acreditaria” – e convenceu a construtora sobre os benefícios que o programa desse porte traria para o empreendimento. “Não se trata de fazer caridade. É um programa que tem custos, objetivos, desempenho, prazos”, esclarece , “mas que também atinge um amplo espectro social”.  Entre o ano de 2000, início dos estudos da usina, e o efetivo início das obras, no ano de 2008, ele teve o tempo necessário para estruturar o projeto, e um orçamento que chegou a R$ 21milhões, dos quais R$ 19 milhões foram investidos até hoje.

Mas no âmbito educacional, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), principal referência de qualificação no País, não tinha expertise em atividades voltadas para o setor de construção. O jeito foi criar um modelo de treinamento, buscando consultores no mercado, e tendo como base o próprio sistema de treinamento e qualificação adotado dentro da construtora Odebrecht, que mescla uma carta de princípios com ênfase na prática, no treinamento e na atenção à realidade local, denominada Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO).

Mas para quem estava lá no campo, como Cardilli, era preciso, antes de tudo, conquistar a confiança da população, cansada de promessas não cumpridas. Para isso, o engenheiro e sua equipe se despiram de qualquer tipo de preconceito para conseguir arregimentar 20 mil pessoas, como se pensava inicialmente.

A diretriz principal era não restringir nenhum interessado, a não ser pela condição da maioridade e a capacidade de ler e escrever. Mesmo assim, quem voltasse para a escola podia ter condições de entrar no programa. Foram feitas parcerias com governos, para aproveitar a estrutura de programas governamentais já existentes, como a Educação para Jovens e Adultos (EJA).

Mas ainda assim, o programa esbarrava na desconfiança da população. O jeito foi iniciar uma maratona atrás desses trabalhadores. “Começamos a visitar escolas, igrejas, centros comunitários para difundir o programa. Eu brincava que, se num bar tivesse cinco pessoas, a gente tinha que parar lá e chamar as pessoas para se inscrever. As mulheres pensavam que só tinha vagas para elas na cozinha ou na faxina. Mas quando começamos a chamá-las para outras atividades, uma foi avisando a outra, e elas começaram a vir atrás do programa. Não privilegiamos ninguém. Ninguém passava na frente de ninguém. Foi então que a população percebeu que era um programa sério. E começamos a ter resultado”, lembra Cardilli.

Antes de entrar no curso, os recrutados eram estimulados a retornar à escola, passavam por avaliações médicas e recebiam orientação para solucionar questões ligadas à documentação ou mesmo à saúde. “Sabe aquele ditado que diz, “não dê um peixe, dê uma vara e ensina a pescar”? Eu não concordo com ele, pois nada adianta dar a vara se a pessoa não tiver forças para segurá-la. Às vezes, é preciso dar algumas condições básicas para que a pessoa possa reencontrar um equilíbrio e desenvolver sua capacidade profissional e pessoal. Acho que esse é o principal mérito do programa Acreditar. Por isso tem esse nome. É preciso acreditar na capacidade de recuperação e resgate das pessoas”, diz o engenheiro.

Para dar forma ao programa, foram desenvolvidas apostilas que respeitavam a linguagem local. O enfoque inicial não era técnico, mas de segurança, higiene e prevenção de acidente no canteiro de obras. Só depois, os estudantes eram introduzidos as suas respectivas áreas de interesse. A perspectiva empresarial fez a diferença para o desempenho do programa. Os alunos recebiam todo um pacote de benefícios para estudar, como uniforme, refeição e transporte. As aulas aconteciam dentro das dependências da Uniron, universidade privada local, em salas de aulas climatizadas. Um galpão foi construído para abrigar as oficinas práticas, com aulas em parceria com o Senai e o emprego de simuladores para o treinamento de operadores de equipamentos.

“Dê o máximo e receberá o máximo. Procuramos demonstrar nossa confiança e respeito por essas pessoas e o nosso compromisso com o objetivo do programa, que não era somente gerar um emprego, mas permitir uma evolução profissional de cada um. Nem todos poderiam ser aproveitados na obra. Mas com esse treinamento eles poderiam ter oportunidades em outros projetos, ou empresas. Foram mais de 67 mil inscritos nos cursos, 37 mil qualificados, 26 mil pessoas empregadas, das quais 11 mil foram direcionadas para usina. De um total de R$ 21 milhões pagos em salários, 80% fica aqui, na região. Isso representa um ganho imenso para a economia local. Hoje, Rondônia começa a exportar mão de obra. Pessoas que vão trabalhar fora e reenviar o dinheiro para o estado. É uma mudança radical na perspectiva histórica dessa região”, diz Cardilli.

Com mais de 50% das obras realizadas em Santo Antônio, o Acreditar entra em uma nova fase. Cardilli acredita que o aprendizado poderá servir a outros projetos e empresas, como já acontece em outros canteiros de obra da Odebrecht, dentro e fora do Brasil. Em Porto Velho, o programa foi estendido aos jovens, por meio do Acreditar Jr, que inclui diversos filhos de trabalhadores da usina. Mais de 600 jovens, entre 14 e 17 anos, fazem cursos do Senai contando com bolsa de estudo. São jovens que driblam a vida difícil para construir uma nova história.

Nas dependências do Senai, os jovens acenam para o engenheiro. Às vezes o abraçam, batem palmas. Nas salas, operam computadores, motores de veículos, de motos, e até de caminhões. Conversam com os monitores, brincam, prestam atenção. Pergunto ao professor Onofre Guedes de Moura o que o grupo está fazendo sozinho diante de um motor. “Eu já expliquei o que fazer e como fazer. Agora é preciso que façam sozinhos pois só assim vão aprender”, diz o mestre prático. “Noutra sala, a monitora da biblioteca Evanie dos Reis se emociona ao atender uma aluna que já passou pelo curso.”

“A gente vê a evolução deles, como conseguem crescer, se desenvolver e melhorar. Isso não tem preço. É uma grande emoção”.

Pergunto o que sonham para o futuro, e muitos dizem que querem ser engenheiros, médicos, professores, mecânicos, ou arranjar um emprego para melhorar a vida. A psicóloga Cássia dos Reis Vittorino explica que, às vezes, é preciso buscar nas famílias as causas de algumas dificuldades, pois os alunos costumam esconder seus problemas. “Mas sempre é possível resolver o problema de alguma forma.” Sob a batuta de Cardilli, o grupo de monitores não aceita perder nenhum desses jovens estudantes. “Eles são como diamantes. Cada um é valor que não tem preço, é uma conquista, uma vitória, por causa das dificuldades que enfrentam na vida. É uma nova geração de pessoas que está sendo formada e que vai mudar a história futura de Rondônia”, diz o engenheiro com cara de mestre.

 

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