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Revista GC - Ed.42 - Outubro 2013
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Entrevista

Os novos desbravadores

Entrevistado: Engenheiro Antônio Augusto de Castro Santos, diretor de Contrato da Odebrecht na UHE Teles Pires

A usina de Teles Pires, que está sendo erguida entre os municípios de Paranaíta (MT) e Jacareacanga (PA), desde agosto de 2011, acrescentará ao sistema elétrico mato-grossense e nacional 1.820 megawatts (MW) de energia, o suficiente para atender a cerca de cinco milhões de habitantes. A obra está incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o investimento totaliza R$ 4 bilhões. Teles Pires é mencionada, pelos especialistas da área, como um marco importante no eixo energético brasileiro, por conciliar diversos fatores e servir de modelo para futuros empreendimentos. A obra é a primeira construída em um ponto praticamente isolado, adentrando a floresta amazônica, exigindo uma mobilização conjunta entre empresas responsáveis e várias esferas governamentais, visando a solucionar questões relacionadas ao acesso, ao transporte de equipamentos e à mão de obra. Para o diretor de Contrato da Odebrecht na UHE Teles Pires, Antônio Augusto de Castro Santos, o grande complicador da obra é sua distância do núcleo urbano mais próximo e as estratégias necessárias para atender às suas demandas.

Grandes Construções – A usina de Teles Pires vem sendo citada por especialistas como sendo de grande importância para a estratégia energética nacional, pelo seu perfil pioneiro, sendo erguida praticamente na região amazônica, numa condição diferente das usinas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, e de Belo Monte, no Pará.

Antônio Augusto de Castro Santos – O complexo Madeira, formado pelas usinas de Santo Antônio e Jirau, deu início, digamos assim, a essa fase de grandes obras de hidrelétricas que voltaram a ressurgir no Brasil. Há também a usina de Belo Monte, única por suas grandes dimensões. A usina de Teles Pires, de certa forma, faz parte do complexo Tapajós, ora em estudos. O rio Teles Pires, no qual está sendo implantada a usina, e o rio Juruena, quando se juntam formam o rio Tapajós. Teles Pires é a primeira hidrelétrica construída no rio de mesmo nome. É um caso diferente de Santo Antônio e de Jirau, que estavam mais próximas de um núcleo urbano, que é Porto Velho, apesar de também estar em região amazônica. A própria usina de Belo Monte está próxima da cidade de Altamira, uma cidade de maior porte


A usina de Teles Pires, que está sendo erguida entre os municípios de Paranaíta (MT) e Jacareacanga (PA), desde agosto de 2011, acrescentará ao sistema elétrico mato-grossense e nacional 1.820 megawatts (MW) de energia, o suficiente para atender a cerca de cinco milhões de habitantes. A obra está incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o investimento totaliza R$ 4 bilhões. Teles Pires é mencionada, pelos especialistas da área, como um marco importante no eixo energético brasileiro, por conciliar diversos fatores e servir de modelo para futuros empreendimentos. A obra é a primeira construída em um ponto praticamente isolado, adentrando a floresta amazônica, exigindo uma mobilização conjunta entre empresas responsáveis e várias esferas governamentais, visando a solucionar questões relacionadas ao acesso, ao transporte de equipamentos e à mão de obra. Para o diretor de Contrato da Odebrecht na UHE Teles Pires, Antônio Augusto de Castro Santos, o grande complicador da obra é sua distância do núcleo urbano mais próximo e as estratégias necessárias para atender às suas demandas.

Grandes Construções – A usina de Teles Pires vem sendo citada por especialistas como sendo de grande importância para a estratégia energética nacional, pelo seu perfil pioneiro, sendo erguida praticamente na região amazônica, numa condição diferente das usinas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, e de Belo Monte, no Pará.

Antônio Augusto de Castro Santos – O complexo Madeira, formado pelas usinas de Santo Antônio e Jirau, deu início, digamos assim, a essa fase de grandes obras de hidrelétricas que voltaram a ressurgir no Brasil. Há também a usina de Belo Monte, única por suas grandes dimensões. A usina de Teles Pires, de certa forma, faz parte do complexo Tapajós, ora em estudos. O rio Teles Pires, no qual está sendo implantada a usina, e o rio Juruena, quando se juntam formam o rio Tapajós. Teles Pires é a primeira hidrelétrica construída no rio de mesmo nome. É um caso diferente de Santo Antônio e de Jirau, que estavam mais próximas de um núcleo urbano, que é Porto Velho, apesar de também estar em região amazônica. A própria usina de Belo Monte está próxima da cidade de Altamira, uma cidade de maior porte e maior capacidade de absorção. No caso de Teles Pires, além da usina iniciar um processo de aproveitamento hidráulico em um rio praticamente virgem, o empreendimento se diferencia por ter praticamente 100% dos trabalhadores alojados no canteiro.

GC – Teles Pires está sendo considerado um projeto diferenciado. Por quê?

AACS – A usina de Teles Pires, em termos de projeto é um dos melhores projetos hidrelétricos do País em termos de custo/benefício. O impacto ambiental é o menor já alcançado, pois praticamente são só 30 famílias afetadas diretamente pela obra, sendo que a maioria eram propriedades de veraneio. São poucas dessas famílias que vivem à margem do rio. Além disso, a área alagada da usina, em termos de m2/MW gerado, será a menor do Brasil. Então, realmente com relação ao impacto versus benefício, se pode dizer que Teles Pires está entre os melhores projetos brasileiros, desse segmento. Isso não foi algo aleatório, foi algo muito pensado e estudado durante a fase de projeto.

GC – Trata-se de uma usina a fio d´água, uma tendência hoje dentre os projetos de hidrelétricas no País.

AACS – Existe essa questão de que as usinas a fio d´água usam um reservatório pequeno. No caso de Teles Pires, há uma característica muito peculiar do rio, que é seu volume de água muito constante e previsível. O regime hidrológico dele é muito parecido ano a ano. Essa é a regularidade que potencializou de maneira positiva a usina de Teles Pires, porque ela permite uma geração de energia muito alta, associada à área de baixa densidade populacional.   Para chegar-se a esta condição ideal, ao melhor posicionamento, como no caso dessa usina, foram feitos muitos estudos, no decorrer de oito anos, para a maturação de um projeto do porte de Teles Pires com esses aspectos. Nesse mesmo rio, está prevista outra usina, a de Sinop, que contará com reservatório de maior porte, o que vai dar uma condição mais regular ainda ao rio.

GC – Por ser um empreendimento em plena região amazônica, isso implica diversas dificuldades para o andamento da obra.

AACS – O País precisa dessas hidrelétricas nessa região amazônica. O que vai ditar o sucesso desses empreendimentos será o equilíbrio entre a parte ambiental e a parte técnica de uma obra como essa. Por ser a primeira das que estão sendo projetadas na região, Teles Pires pode servir de laboratório de informações, tanto na parte técnica, quanto na ambiental, para ajudar na conclusão dos estudos dos demais projetos. Essa experiência pode gerar um nível de informação muito importante e ajudar na viabilização de outros projetos.

GC – Quais são os pontos mais críticos, em termos de execução da obra?

AACS – O grande desafio em relação a Teles Pires está mesmo no seu isolamento. Chegar aqui já é um grande desafio. Mas manter as pessoas aqui motivadas e satisfeitas é com certeza o nosso maior desafio. É uma usina que tem dimensões muito grandes. A máquina de geração de Teles Pires é praticamente do mesmo porte de Itaipu, Tucuruí ou Belo Monte. É uma máquina muito grande, que está sendo construída nessa região muito isolada. Se a gente comparar com Itaipu, na região Sudeste, Belo Monte, que permite chegar com os equipamentos via fluvial. Por conta disso, conseguiram minimizar os impactos de acesso. Mas, aqui nesta usina, há maior dificuldade em relação à distância dos grandes centros. Estamos distanciados cerca de 3.000 a 3.500 km de onde são fabricados os equipamentos. Vencer essa distância, a dificuldade de acesso e motivar as pessoas a ficarem aqui são os maiores desafios do empreendimento, sem dúvida.

GC – Qual é o volume de mão de obra empregada em Teles Pires, atualmente?

AACS – Além de trazer os trabalhadores para cá, a questão era também mantê-los aqui motivados e satisfeitos. Por isso, nós procuramos todas as maneiras de adequar o cronograma da obra para reduzir o número de trabalhadores durante o pico da construção. Se antes estávamos falando de sete mil, hoje a previsão é de chegar entre 5.600 e 5.700 homens trabalhando, simultaneamente. É uma redução de cerca de 20%, que nos levou a buscar inovações que permitissem reduzir a mão de obra. Isso foi possível graças ao uso, principalmente, de equipamentos. Tanto de equipamentos de obras civis, como de corte e dobra de aço e formas diferenciadas, assim como de terraplenagem, todos de maior eficiência. Optamos por equipamentos de maior porte e de grande capacidade de transporte, tudo isso para diminuir a quantidade de pessoas.

GC –  Qual é a etapa atual do empreendimento?

AACS – Nós já realizamos o desvio do rio, com a conclusão de três túneis em rocha. Trata-se de um momento importante para uma hidrelétrica. Esse desvio possibilita o acesso ao leito natural do rio e, com isso, é possível iniciar a construção da barragem. Então, foi iniciada a construção do barramento da obra. Estamos a pleno vapor com a construção do circuito de geração, onde fica a unidade geradora, e iniciamos a montagem eletromecânica. Nós temos um prazo em Teles Pires muito desafiador, de 38 meses. Não se tem registros de outra obra do porte de Teles Pires, com o prazo que temos aqui. A previsão é de a usina iniciar a operação da primeira unidade geradora já no ano que vem. Isso só é possível com muito planejamento, com muito conhecimento técnico a montante, antes da obra se iniciar. É na fase de projeto que esse conhecimento é aprimorado. A Odebrecht estudou essa obra de 2007 a 2010. Durante todo esse período, ela despendeu tempo, investimento financeiro e estudos tanto de Engenharia como da parte socioambiental, para ter domínio do projeto. Ao final de 2010, ocorreu o leilão, que teve como vencedor a Companhia Hidrelétrica Teles Pires. A partir de janeiro de 2011, iniciou-se a implantação do projeto. De 2011 para cá, nós temos dois anos e meio de estudos. Estamos completando dois anos de obra. Ou seja, foram aí cerca de oito meses de estudos, antes de iniciar realmente a obra, com uma equipe mobilizada focada apenas na Engenharia e no Planejamento.

GC – Como foi solucionada a questão da mão de obra?

AACS – A Odebrecht hoje tem um programa próprio de capacitação de obra, que é o Acreditar. Esse programa nasceu na implantação da usina Santo Antônio e já está sendo aplicado até em outros países. Nós adotamos esse programa tão logo chegamos à cidade. Refere-se a um processo de formação e capacitação de mão de obra, o que atrai, por si só, em especial as mulheres da região. Por termos praticado esse programa em Santo Antônio, por exemplo, temos várias mulheres oriundas de lá. É um programa que visa aproveitar a mão de obra local. No entanto, por se tratar de uma região com cidades com população pequena, nós não conseguimos atender à demanda somente com essa mão de obra. Hoje, a mão de obra local representa 20% da usina. Os demais trabalhadores são oriundos do Brasil inteiro. Temos, inclusive, um incentivo para que os funcionários indiquem um amigo.

GC – É uma maneira de reduzir a aridez do ambiente de trabalho.

AACS – Esse é o grande diferencial. Fomentar a formação de grupos de pessoas que já se conhecem. Isso propicia a criação de um ambiente harmonioso e amistoso, conferindo maior conforto para os trabalhadores. Um grande fator é o conceito de minicidade que adotamos para os canteiros. A gente se preocupou com coisas do tipo aparelhos de televisores, ar condicionado no quarto, quarto com janela de vidro, cortina blecaute. Enfim, tentamos transformar, ao máximo, as instalações em algo próximo à residência deles. São pequenos detalhes que procuram amenizar a saudade de cada um. Por exemplo, no refeitório há uma consciência de consumo racional, evitando-se o desperdício, pois isso incomoda o operário, mas a refeição não é limitada. Com isso, a gente tem conseguido manter equilíbrio e dar maior satisfação para as pessoas. São usados pratos de porcelana, talheres normais, para que as pessoas se sintam em um ambiente normal e familiar. Os trabalhadores precisam se sentir satisfeitos por estar a aqui. Assim, evitamos conflitos. Detectamos, logo no início, que tínhamos de ter pessoas motivadas. Na verdade, para vir para cá, a pessoa já estava motivada. Mas essa motivação por si só não seguraria o trabalhador. Por isso, fomos trabalhar nesses detalhes e procuramos criar, ao máximo, um ambiente muito próximo ao de uma cidade. O canteiro tem pizzaria, cinema, área de lazer, tudo projetado por uma arquiteta. Hoje, temos casos de pessoas que no final de semana, quando podem ir para suas casas na cidade, preferem permanecer no canteiro. Nós temos uma evasão média de apenas 1.500 pessoas no final de semana. Ou seja, cerca de 70% preferem ficar nos alojamentos.

GC – Quais são os cuidados ambientais do canteiro?

AACS – Internamente, o canteiro é o que se pode chamar de cidade de primeiro mundo. Ele conta com sistema de tratamento de esgoto e de resíduo sólido. O resíduo hospitalar é incinerado. Hoje, nós temos aqui uma condição que poucas cidades no Brasil têm. Se ocorrer algum vazamento de óleo, por exemplo, todo o segmento de solo é retirado para descontaminação. A vegetação das áreas de apoio, que está sendo suprimida, será revegetada com espécies nativas, mantendo-se a cobertura natural. Lógico, dentro de um prazo previsto, mas será recuperado. É uma responsabilidade muito grande, tudo é acompanhado pelo Ibama. E esse é um sistema que só tende a ser aprimorado.

GC – O que pode destacado em termos de engenharia?

AACS – Desse ponto de vista, trata-se de uma obra convencional, com um layout conhecido. A novidade é mesmo o prazo para se executar esse tipo de obra, algo pioneiro no País. Daí decorre o grau de planejamento empregado. Para atingir esse prazo, investimos em torno US$ 180 milhões em equipamentos novos, para a obra. Tínhamos de ter excelência operacional, para suportar esse planejamento. Estamos fazendo uso de equipamentos de alto desempenho, como os guindastes, todos novos. As centrais de concreto e de concreto resfriado também são novas, assim como a central de britagem. Os equipamentos de terraplenagem são, praticamente, todos novos e alguns são de grande porte, como escavadeiras de 70 t, caminhões fora de estrada, caminhões rodoviários, todos são de última geração, com acompanhamento via satélite. Na mineração são usados equipamentos muito maiores do que estes, sem dúvida. Mas, em termos de obras de infraestrutura, são equipamentos mais pesados. O que buscamos foi obter maior produtividade e assim garantir alcançar o prazo previsto.

GC – E com respeito à parte civil, quais as principais inovações?

AACS – Na parte das obras civis, o diferencial aparece no uso das fôrmas deslizantes, por exemplo, que tornam o processo mais industrial e menos artesanal. As formas, fornecidas pela Ulma, substituem um sistema usado anteriormente, que era quase uma obra de arte. Quando se traz coisas prontas para a obra, ao invés de montá-las aqui, elimina-se a necessidade de maior volume de mão de obra, o que torna mais ágil o processo e a construção.

GC – E como você lida com essa distância, pois você também fica no canteiro durante toda a semana?

AACS – Quando eu vivia com meus pais, eu morei em mais de 16 cidades e, depois da faculdade, já são mais de 20 cidades por onde eu passei. A gente se torna um cidadão do mundo. Isso nos dá a condição de adaptação aos lugares e a capacidade de relacionar com o grupo, em qualquer circunstância.  Uma obra de hidrelétrica é algo peculiar. São sempre os lugares mais longínquos, isolados. Para mim, particularmente, a minha família é o que me dá o suporte, para enfrentar esses desafios. Teles Pires exige uma dedicação muito grande. Então eu acho que a condição familiar é muito importante, não somente para mim, mas para todos que trabalham aqui. No meu caso, a família tem de estar comigo, para eu desempenhar bem esse papel. No caso dos operários, também tem muitos que convidaram parentes, filhos, primos, e estão trabalhando juntos aqui. Antigamente, o chefe da família saía sozinho para buscar uma oportunidade. Hoje não, a gente percebe que a família vai junto com ele. É possível perceber que as famílias estão mais unidas. Por outro lado, buscamos uma condição de convivência harmoniosa com as prefeituras locais. Nenhuma atividade foi feita sem que a gente procurasse falar com os prefeitos. Ou seja, nossa preocupação sempre foi criar condições de convivência dentro e fora do canteiro, procurando reduzir os conflitos e amenizar os impactos. Acho que isso é um aprendizado interessante.

 

 

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