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Revista GC - Ed.86 - Jan/Fev 2018
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Editorial

Água: por um pacto global

Nem bem superamos a crise hídrica que tanto nos preocupou nos anos de 2014 e 2015, e já constatamos que os sistemas de armazenamento e abastecimento de água em todo o país continuam vulneráveis, não demorando muito para termos de enfrentar novas crises. Esse fenômeno seria resultado  não somente das mudanças climáticas em todo o planeta, com a alteração nos ciclos de chuva, mas também do incremento da demanda de água nas cidades e pelo setor agrícola, sem o aumento, na mesma proporção, dos investimentos em reserva e distribuição do recurso.

Outro fator que pode causar o colapso iminente no sistema de captação, tratamento e distribuição de recurso é o desperdício. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 70% da água disponível no Brasil é usada na agricultura para a produção de alimentos. No entanto, 45% deste montante são desperdiçados em métodos de irrigação mal executados, na falta de manutenção das estruturas, e de controle no manejo das lavouras.

Já nas cidades, 10% da água utilizada no Brasil são destinados ao abastecimento residencial e 20% ao setor industrial. E, mais uma vez, o desperdício é o grande vilão. Metade do volume (50%) que sai das distribuidoras se perde pelo caminho, devido ao péssimo estado de conservação das tubulações. Como agravante, a água que chega às residências é submetida ao uso irresponsável pela  população, em banhos demorados, limpeza de ca


Nem bem superamos a crise hídrica que tanto nos preocupou nos anos de 2014 e 2015, e já constatamos que os sistemas de armazenamento e abastecimento de água em todo o país continuam vulneráveis, não demorando muito para termos de enfrentar novas crises. Esse fenômeno seria resultado  não somente das mudanças climáticas em todo o planeta, com a alteração nos ciclos de chuva, mas também do incremento da demanda de água nas cidades e pelo setor agrícola, sem o aumento, na mesma proporção, dos investimentos em reserva e distribuição do recurso.

Outro fator que pode causar o colapso iminente no sistema de captação, tratamento e distribuição de recurso é o desperdício. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 70% da água disponível no Brasil é usada na agricultura para a produção de alimentos. No entanto, 45% deste montante são desperdiçados em métodos de irrigação mal executados, na falta de manutenção das estruturas, e de controle no manejo das lavouras.

Já nas cidades, 10% da água utilizada no Brasil são destinados ao abastecimento residencial e 20% ao setor industrial. E, mais uma vez, o desperdício é o grande vilão. Metade do volume (50%) que sai das distribuidoras se perde pelo caminho, devido ao péssimo estado de conservação das tubulações. Como agravante, a água que chega às residências é submetida ao uso irresponsável pela  população, em banhos demorados, limpeza de carros, lavagens de calçadas, vazamentos etc.

O aumento das perdas nos últimos anos indica que o problema não está sendo tratado com a necessária urgência. As regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, por exemplo, perdem juntas cerca de 105 trilhões de litros d’água por ano. A estimativa é do hidrologista brasileiro Augusto Getirana, pesquisador assistente da agência espacial norte-americana (Nasa), em Maryland, nos Estados Unidos. De 2012 a 2015 verificou-se que a quantidade de água nas regiões Sudeste e Nordeste do país diminuiu significativamente. Nesse período, essas regiões perderam, no total, 56 km3 e 49 km3 de água, respectivamente.

Em um estudo publicado em outubro passado, na revista Journal of Hydrometeorology, Getirana analisou variações do armazenamento total de água no Brasil neste período, tanto das águas superficiais – como rios, lagos e reservatórios – às subterrâneas – como dos aquíferos e a umidade do solo.

O hidrologista usou um conjunto de dados obtidos por dois satélites da Nasa, capazes de detectar dois tipos de variações: no campo gravitacional da Terra, em geral causadas pelo movimento de grandes massas d’água, como rios e aquíferos subterrâneos; e ao medir a altura da camada de água (veja foto na nossa capa).

Quando os satélites começaram a coleta de dados, em 2002, o Brasil havia acabado de passar por um período de seca iniciado em 2000. Um período mais úmido estendeu-se até 2012, quando, novamente, a baixa incidência de chuvas, associada ao aumento das temperaturas médias, voltou a predominar em grande parte do território brasileiro. O resultado foi a pior seca do país em 35 anos.

Infelizmente esse não é um problema exclusivo do Brasil. Dados da ONU dão conta de que a demanda mundial por água tem aumentado, em média, 1% ao ano, principalmente nos países emergentes. E o que é mais alarmante: no futuro, as mudanças do clima ameaçam deixar 3,6 bilhões de pessoas em situação de escassez.

O planejamento e a gestão do reuso ainda é pouco explorado. Um estudo recente da UNESCO mostra que 70% das águas residuais urbanas e industriais, em média, são tratadas nos países de renda alta. Essa proporção cai para 38% nos países de renda média-alta, para 28% nos países de renda média-baixa e para apenas 8% nos de renda baixa.

Faz-se necessário o planejamento estratégico e de investimento no setor hídrico. Precisamos encaminhar, com urgência e eficácia, as medidas previstas no Movimento Menos Perdas, Mais Água – iniciativa criada pela Rede Brasil do Pacto Global em 2016. Isso implica amplo debate sobre o consumo racional, com a participação de governos, sociedade civil e setor privado, com uma agenda de ordem prática.

O Movimento tem quatro linhas de atuação: aumentar a pressão política para que o plano de saneamento adote metas mais ousadas para redução de perdas hídricas, definindo o papel dos órgãos públicos na execução, monitoramento e fiscalização dos sistemas de distribuição e abastecimento; criar campanhas sobre o assunto, a serem divulgadas pelas mídias sociais e veículos de comunicação; elaborar indicadores confiáveis, cujos resultados possam ser comparados com os de outros países; e capacitar gestores e mão de obra para a elaboração de projetos, mapeamento de linhas de financiamento e operação de equipamentos.

Precisamos, ainda, usar mais a tecnologia disponível, para a redução de perdas hídricas. Com essas ações em curso, estaremos, finalmente, alinhados com a criação de uma aliança global pela conservação e uso consciente da água no planeta.

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